Autor: Giancarlo Galdino

O filme da Netflix para quem gostou de Inception (A Origem) Divulgação / Netflix

O filme da Netflix para quem gostou de Inception (A Origem)

Enlouquecer de verdade ou recolher os cacos da dignidade ferida, procurar as pessoas com as quais nunca se quis estar e empreender qualquer outro esforço a fim de restabelecer o vínculo interrompido? A pergunta, claro, é mera retórica e como mostra “Sonhos Lúcidos”, do sul-coreano Kim Joon-sung, não há pai digno desse nome no mundo que não se enfrente qualquer risco pelo prazer de ter de volta sua razão de viver.

O suspense brilhante e sinistro da Netflix que você não conseguirá tirar da cabeça Divulgação / Netflix

O suspense brilhante e sinistro da Netflix que você não conseguirá tirar da cabeça

“I Am Mother” conta com recursos muito semelhantes a “Ex-Machina: Instinto Artificial” (2014), de Alex Garland, quanto a destrinchar seu núcleo. Também dispondo de um elenco diminuto, mas afinado, Sputore se utiliza do pressuposto de mecanismos cuja função primária de melhorar a vida humana é desvirtuada, e as ginoides — tanto na produção de 2019 como em “Ex-Machina”, dois personagens femininos, o que por si só fomenta discussões díspares que englobam misoginia, empoderamento da mulher, e mesmo violência doméstica — saem do controle, tornando-se as senhoras de um ambiente em que nunca poderiam passar de invisíveis subalternas.

O filme da Netflix, com Jake Gyllenhaal, feito sob medida para espectadores inteligentes Claudette Barius / Netflix

O filme da Netflix, com Jake Gyllenhaal, feito sob medida para espectadores inteligentes

Histórias sobre um universo tão distante da maioria das pessoas como a arte ou agradam precisamente pelo caráter de novidade do que se aprecia na tela ou afastam o espectador de saída, desconfiado que fica de que, além de não entender nada ou quase nada, ainda vai se aborrecer. No mínimo original, “Velvet Buzzsaw”, de Dan Gilroy, passa longe tanto do que se conhece sobre filmes que exploram os bastidores obscuros das artes plásticas como de tudo o que já propuseram outras produções com o terror por fim. Tudo com a maior classe.

Filosófico e brutal, filme de ação metafísico e delirante na Netflix vai te deixar desorientado Jessica Forde / Universal Pictures

Filosófico e brutal, filme de ação metafísico e delirante na Netflix vai te deixar desorientado

Foi-se o tempo em que mulheres eram sempre relegadas ao papel das pobres infelizes à mercê da subjugação de homens perversos, que faziam delas o que bem entendessem (aliás, já de há muito que a hegemonia masculina, um dos baluartes do cinema, vem perdendo fôlego). O veterano Luc Besson da sua colaboração quanto a desconstruir parte desse arquétipo do macho todo-poderoso; em “Lucy”, a personagem-título não perdoa, mata — e nunca desce do salto.

O filme genial que está escondido na Netflix e você certamente não assistiu (do mesmo diretor de Parasita) Distribuição / Showbox

O filme genial que está escondido na Netflix e você certamente não assistiu (do mesmo diretor de Parasita)

O fato de criaturas monstruosas, nascidas de mutações genéticas ou da interferência de ondas radiativas, habitarem o cinema há muito tempo não é novidade para ninguém. O que é relativamente inédito é a maneira como esse argumento vem sendo trabalhado pela indústria cinematográfica, sobretudo a sul-coreana, que sempre encontra um meio de dizer grandes verdade a partir de filmes prosaicos à primeira vista, mas espantosamente originais. Esse é o caso de “O Hospedeiro”, no qual o diretor Bong Joon-ho se vale da exposição de um anfíbio gigantesco para falar de temas verdadeiramente assustadores.