Autor: Giancarlo Galdino

Confinados em casa a fim de que se contivesse a propagação do coronavírus, milhões de pessoas naquele país começaram a acessar sites e chats pornográficos, muitos pela primeira vez, e o que deveria permanecer relegado à esfera privada, um repositório interminável de desejos reprimidos, passou a ser de conhecimento de todos, mediante expedientes criminosos de abusadores sexuais, que coagiam suas vítimas, sempre mulheres, a exibirem-se nuas e se automutilarem.

Ouvir a voz da razão e seguir seus instintos quanto a fazer a coisa certa nem sempre é a atitude mais adequada, mas em muitos casos é a única possível quanto a se preservar intacta a dignidade e o senso de justiça. Não se curvar ao arbítrio dos poderosos exige uma coragem rara, e o diretor Clark Johnson o mostra com clareza em “Uma Voz Contra o Poder”, paradigma da sensatez dos homens ilustrados de um país que, assim, o fazem indiscutivelmente grande.

Geralmente, dramas de família puxam segredos inconfessáveis, que desencadeiam comportamentos patológicos que, por seu turno, não raro degringolam em crime. Tipos com personalidades dúbias, sujeitos a circunstâncias que os tornam ainda frágeis, redundam em histórias que fisgam logo a curiosidade um tanto mórbida do espectador, como em “Instinto Assassino”, em que David Hackl especula sobre até que ponto distúrbios mentais podem interferir na natureza profunda de alguém.

Tipos carismáticos, que fisgam o público a despeito de papéis controversos, sempre foram uma constante na história do cinema. Esses personagens se destacam dos demais graças justamente a sua capacidade de, com a mesma força, desempenhar o lado humano e bestial de pessoas aparentemente simplórias, mas repletas de camadas. O personagem central de “Nada Santo”, do italiano Renato De Maria, orbita nesses dois universos, deixando transparecer algumas interseções entre eles.