Autor: Giancarlo Galdino

Depois de quase três décadas, um evento vergonhoso da história contemporânea da humanidade vem à tona de forma tão vigorosa quanto chocante. Em 1994, durante o genocídio dos tútsis em Ruanda, quatro mulheres de origens e crenças distintas se mantêm juntas no cômodo secreto e apertado da casa de uma delas, a fim de escapar da morte. Tomando por premissa uma imagem delirante à primeira apreciação, a diretora americana Alanna Brown usa 97 minutos para falar de barbárie, resistência e tolerância em “Árvores da Paz”, produção independente que une beleza e violência com sensibilidade.

Em muitas ocasiões, o cinema se presta a uma chance de alento — às vezes, a única —, para corações despedaçados. Aos poucos tristeza vai se tornando alegria, e, quiçá, com muita sorte se torne felicidade, deixando implícita a mensagem de que por mais negra e interminável que pareça a noite, dentro de algumas horas vai (ou, ao menos, pode) raiar um sol abrasador, que dilui todo resquício de melancolia. O diretor Rob Burnett se propõe a conduzir esse processo em “The Fundamentals of Caring”, levando seus personagens por uma jornada de autoconhecimento, cura e transformações quase milagrosas, tanto que nem parecem críveis.

Amor em difíceis extremos sempre foi um tema caro ao cinema. “Casablanca” (1942), o clássico dirigido por Michael Curtiz (1886-1962), decerto é a produção que primeiro adicionou a uma narrativa que se desenrola ao longo de um conflito armado, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a exata medida de romance e drama — sem contar “…E o Vento Levou” (1939), em que Victor Fleming (1889-1949) carrega nas tintas do sentimentalismo afetado. “Aliados” é um filme que preza pelo equilíbrio.

“Mary Shelley”, a saudita Haifa Al-Mansour celebra a figura da personagem-título, autora de “Frankenstein”, o Prometeu Moderno, reavivando a discussão cada vez mais urgente sobre a necessidade feminina de afirmação, um problema de que a escritora já se ressentia quando da publicação de sua obra-prima, há mais de duzentos anos.

Há os que encontram alento na família, na religião, nos prazeres da carne, todos esses remédios eficazes em alguma medida — e inócuos em outra. Da mesma forma a carreira é um jeito de se manter ocupado e de preservar os problemas longe, mas por mais bem-sucedido que se seja, também a dedicação à vida profissional tem suas restrições e pesares, explorados por Jeremiah Zagar em “Arremessando Alto”, uma história tão despretensiosa quanto comovente.