O garoto amish que se torna o protagonista de “Mudo” perde sua voz por causa de escolhas equivocadas dos pais na esteira de um acidente grave; tomando essa tragédia por ponto de partida, o diretor Duncan Jones fala sobre um futuro pouco auspicioso, em que esse menino é obrigado a se transformar num homem, sem nunca conseguir se reconhecer um indivíduo como os demais.
Uma declaração aparentemente banal pode ocultar um sem-fim de emoções diversas, da serenidade espiritual um pouco além do recomendável a uma fúria quase incontida, que como um filete d’água numa represa de sentimentos procura a mínima fissura para fazer vir abaixo toda a mágoa que contém. “Está Tudo Certo”, da alemã Eva Trobisch, parte de um evento abjeto na vida de sua protagonista para abordar um tema dolorido para qualquer mulher, em qualquer lugar do mundo, seja em que tempo for, e daí atingir conclusões ainda mais devastadoras.
Em se lidando com os sentimentos mais íntimos de uma pessoa, tirar do limbo fatos e declarações que não dizem respeito a mais ninguém senão aos indivíduos, adultos e capazes, envolvidos nesses episódios só o que faz é trazer cizânia e quiçá tragédia. Um grupo de sete amigos enfrenta apuros ao passar por cima de pressuposto tão elementar para a boa convivência em “Perfectos Desconocidos”, onde o diretor Álex de la Iglesia lança mão de um enredo inteligente, embora repisado, com a intenção de averiguar o que existe para além da superfície do homem.
Uma heroína que não prima pelo traquejo social precisa de um par para o baile de formatura, mas vai ter de adiar um pouco mais os planos de se esbaldar junto aos colegas numa pista de dança com direito a globo de espelho e ponche de frutas depois de três anos se preparando para a faculdade, palco para as primeiras experiências românticas de adolescentes mundo afora porque um fenômeno excêntrico, para dizer o mínimo, ameaça não só a festa, como a própria sobrevivência dos alunos.
Situações de desgaste emocional intenso podem ser fatos isolados, mas quase sempre desembocam em episódios ainda mais dramáticos quando não se pode contar com a devida assistência, ou mesmo com o ombro amigo de uma pessoa que nos queira bem. A protagonista de “Terror em Silent Hill” tenta escapar ao sofrimento de ver a filha tomada por pensamentos monomaníacos, mas ao tentar dar um fecho à agonia da garota, o diretor Christophe Gans eleva seu filme à categoria de história feita para inspirar medo. Sem mais circunvoluções retóricas.
