Autor: Giancarlo Galdino

À medida que cessa tudo o que antiga musa cantava, nos habituamos às crueldades do admirável mundo novo e louvamos as vantagens que ele igualmente traz. Ferramentas como a Netflix se tornam as grandes divulgadoras de filmes que, sob o outro paradigma, restariam por completo ignorados, ou pelo orçamento tão apertado a ponto de não sobrar muito para a distribuição, ou pelo caráter espinhoso do roteiro. Os tesouros verdadeiramente enriquecedores sempre estão mais perto do que a gente pensa.

Poucos atores e diretores em Hollywood conhecem William Shakespeare, o Bardo de Stratford-upon-Avon como Kenneth Branagh, que se vale de sua origem próxima e da provável semelhança física para assenhorear-se do espírito irrequieto de Shakespeare em “A Pura Verdade”, em que desdobra-se entre incorporar o gênio mais soberbo do teatro universal e dirigir uma versão fantasiada de sua vida, que ninguém duvida de que pode, sim, ter sido a única.

Não há limites para a criatividade dos diretores coreanos: zumbis, dramas de família, suspenses, ficções científicas, todos esses temas já eram destrinchados na tela por realizadores atentos, e em 2021 a indústria de filmes do país resolveu que era hora de ir mais longe. “Nova Ordem Espacial”, de Jo Sung-hee, levanta voo para além do que já se espera das histórias sul-coreanas, conservando a tradição de entreter e fazer pensar.

Se o zênite da carreira cinematográfica de um ator é viver um super-herói, Ryan Gosling definitivamente não tem do que reclamar. Gosling, astro em produções tão díspares e fascinantes “La La Land — Cantando Estações”, dirigido por Damien Chazelle, e “Drive”, do dinamarquês Nicolas Winding Refn, tem tudo para fisgar o público em “Agente Oculto”, de Anthony e Joe Russo, grande aposta da Netflix para a abertura da alta temporada de arrasa-quarteirões.

Não há nada de errado em se tentar fazer com que o dinheiro renda. Contudo, medidas açodadas em busca daquela sobra que pode tirar qualquer um do sufoco se mostram perigosas além da conta, e a poupança de toda uma vida escorre pelo ralo num piscar de olhos, diante da cara de estupefação de quem ousou sonhar com dias melhores. “Life Without Principle”, do diretor honconguês Johnnie To, rejeita as falsas ilusões ao lidar com um tema que tira o sossego do mundo.