Autor: Giancarlo Galdino

Até hoje ninguém sabe se o arqueiro mais habilidoso da Idade Média existiu de fato; mesmo assim, seu exemplo, o de um homem digno, revoltado com o destino cruel de ter de se conformar com a marginalidade, inspira sonhadores do mundo todo. “Passei por Aqui” (2022), do diretor britânico-iraniano Babak Anvari, discorre sobre a vergonha da perpetuação da miséria e de cenários indignos para a vida centrando a história numa figura poética, que faz as coisas bem ao seu jeito.

Os sentimentos humanos afloram com muito mais força nos momentos em que, represadas, as emoções se fazem conhecer mediante as brechas do alquebrado espírito, momento em que, não raro, manifestações sobrenaturais — verdadeiras ou não — tornam-se mais frequentes. O tailandês Sittisiri Mongkolsiri se vale das fragilidades humanas em “Inhuman Kiss” (2019), conto de terror com espaço para deliberações sobre os rumos da humanidade.

Sem nenhuma lógica que a possa explicar, a vida obedece apenas a suas próprias regras, de onde se extrai o fundamento maior que rege os mais sábios: aprender a arte do olvido. O protagonista de “O Aviso” (2018) não esquece nada e aprende muito pouco. Daniel Calparsoro dá ao público todos os elementos quanto a entender seu filme como o registro excruciante de uma alma que se fragmenta, portadora de segredos insuportáveis aos demais.

Vivências melancólicas decerto influenciaram o escritor britânico Rudyard Kipling nos relatos sobre seu personagem mais famoso. O diretor Andy Serkis capta o espírito de um homem que enxergava a dor da rejeição pelo prisma da beleza de um encontro insólito em “Mogli — Entre Dois Mundos” (2018), sem dúvida a interpretação mais sombria do livro de seu compatriota, publicado num distante século 19 que se rendia aos maneirismos do novo tempo que se avizinhava.