Autor: Fred Navarro

Elogio do imobilismo

Elogio do imobilismo

Somos o mais filosófico dentre as centenas de povos do planeta. Poucos apreciam perder o tempo que desperdiçamos em meio a contradições intermináveis. Adoramos confundir lerdeza intelectual com sabedoria, e o infinito com o indefinido. Em consequência, adiamos a realização do possível, sem prazo de validade. Somos — quem sabe? — mais pacientes que japoneses, chineses, tibetanos, vietnamitas, tailandeses e demais povos orientais, juntos. Somos mais filosóficos que alemães, franceses, ingleses, austríacos e dinamarqueses. Precisamos de tempo e de sossego para pensar e adiar as decisões necessárias. Não gostamos de nos mexer, a não ser o inevitável, se possível apenas o mindinho.

Dresden, fevereiro de 1945: o inferno somos nós

No dia 13 de fevereiro de 1945, 70 anos atrás, às 22h09, teve início o teste sobre a capacidade letal do método convencional de assassinato em massa. Ao longo de doze horas e vinte e dois minutos, esquadrilhas em três ondas formadas por cerca de 3.600 aviões bombardearam Dresden. O escritor americano Kurt Vonnegut Jr. estava lá como prisioneiro de guerra e afirma que havia tendas da Cruz Vermelha espalhadas pela cidade, que não se via um tanque ou tropas nas ruas. Não era um ataque, era um massacre. No romance “Matadouro nº 5” (Slaughterhouse Five), ele recriou de forma dantesca e surreal aquele 13 de fevereiro e o horror dos dias seguintes.