Em “Sr. Holmes”, o maior detetive da literatura é confrontado por um enigma que nenhuma lógica é capaz de resolver: a própria fragilidade humana. Ian McKellen interpreta um Sherlock idoso e atormentado por memórias difusas, enquanto busca compreender não apenas um caso mal encerrado, mas os limites de sua razão diante da culpa, da perda e da falência da mente.
Sob o imenso céu do sertão nordestino, onde o azul se perpetua sem prometer chuva, desenrola-se a silenciosa tragédia cotidiana de milhares de mulheres como Hermila — jovens, mães precoces, moldadas por uma realidade que pouco lhes oferece além da repetição. Em “O Céu de Suely”, Karim Aïnouz recusa o espetáculo da violência explícita para mergulhar em um drama íntimo e pungente, situado em Iguatu, pequena cidade cearense onde a esperança é artigo raro e o tempo parece imóvel.
Em “Viver”, Oliver Hermanus resgata a essência do clássico de Kurosawa e a transporta para a Londres do pós-guerra, onde a rigidez de um funcionário público é abalada por uma sentença de morte. Com delicadeza e sobriedade, o filme investiga o que resta de humano em vidas consumidas pela rotina, abrindo espaço para um gesto final de autenticidade, significado e resistência contra a apatia silenciosa do cotidiano.
Há histórias que não se sustentam pelo enredo, mas pelo que insinuam por trás de cada gesto, palavra ou silêncio. “Don Juan DeMarco” é uma dessas raridades cinematográficas que desafiam classificações simplistas: não é apenas uma comédia romântica com toques de fantasia, tampouco um drama existencial travestido de fábula. Se trata de uma reflexão lírica — e, por vezes, provocadora — sobre a urgência de preservar o encantamento em uma realidade que, com frequência, sufoca o inusitado em nome da normalidade.
Há filmes que permanecem vivos não pelo espetáculo visual ou pela pirotecnia narrativa, mas porque têm a coragem de explorar os interstícios onde a justiça se corrompe e o poder se dissimula. “O Júri”, dirigido por Gary Fleder e baseado no romance homônimo de John Grisham, é exatamente esse tipo de cinema — não aquele que nos oferece respostas bobas, mas que expõe a engrenagem oculta por trás do veredito.
