Autor: Enio Vieira

A ficção paranoica de Don DeLillo

A ficção paranoica de Don DeLillo

Em seus livros, DeLillo realiza uma remixagem de pedaços ou restos de estilos: ficção científica, romance policial, distopias, paranoia, conspirações, para gerar uma forma nova de narrar. O que seria apenas lixo cultural, porém, se transforma em grande arte do pensamento e da literatura. Devorar tudo também é a forma de a sociedade norte-americana se organizar e controlar a economia global. Os Estados Unidos fazem a combinação de dinheiro, tecnologia, guerras, armas e, sobretudo, produção da cultura para consumo mundial (haja vista o cinema e a música pop).

A obra de arte na era do ChatGPT

A obra de arte na era do ChatGPT

Uma das novidades dos últimos tempos foi a chegada de dispositivos de inteligência artificial (IA) ao público em geral. Pela primeira vez, programas como o Chat GPT ficaram ao alcance da mão de qualquer pessoa. Assim caiu a ficha para muita gente de que o mundo está se transformando de maneira mais acelerada, para além do imaginado, principalmente após a pandemia do coronavírus.

Argentina em transe JHG / Alamy Stock Photo

Argentina em transe

O tempo avançou, e Argentina chegou ao ano de 2023 sem resolver os impasses e as tragédias da crise de 2001. O país virou um grande delivery: obrigado a entregar promessas que jamais serão cumpridas e numa situação tão precária quanto a de um motoboy. Ficou na imaginação do passado a terra moderna, quase ilha no meio de um continente subdesenvolvido. Um lugar que produziu ganhadores do prêmio Nobel, escritores como Jorge Luis Borges e um cinema contemporâneo de alcance global.

Literatura, boemia e pensamento

Literatura, boemia e pensamento

Boas ideias surgem fora das salas de aula ou seminários acadêmicos — hoje os santuários do bem pensar. Onde brota o pensamento mesmo, com nome digno de ser dito assim, é em diálogos sem fim determinado. E ninguém como os boêmios para a arte de jogar conversa fora. A literatura e a filosofia estão repletas de autores e personagens que passam o tempo sem fazer nada, apenas batendo papo. Mas é nesse papo despretensioso que aparecem coisas consideradas perigosas, sejam estéticas ou políticas.

“Os Substitutos”, de Bernardo Carvalho, expõe o fim do mundo Divulgação / Pablo Saborido

“Os Substitutos”, de Bernardo Carvalho, expõe o fim do mundo

A boa ficção se preocupa em apenas expor situações e personagens, sem a necessidade de apresentar provas. Quem documenta e busca comprovações são os cientistas e os jornalistas. Ao fazer a exposição da realidade, o artista chega antes dos outros (a ciência, sobretudo) a uma verdade. No Brasil, o escritor Bernardo Carvalho é um dos mestres do jogo ficcional que se aproxima e se afasta do “real”. Ele desconfia do chamado realismo e luta contra a ideia de escrita como registro. “A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates”, escreveu ele no romance “Nove Noites” (2002).