Autor: Enio Vieira

Riobaldo nas quebradas

Riobaldo nas quebradas

O romance “Grande Sertão: Veredas” (1956), de Guimarães Rosa, é uma obra intraduzível no sentido amplo da palavra. Não há outras palavras para dar conta dessa história — só as do autor. As tentativas de transpor a escrita rosiana para outros meios falharam ao longo dos tempos. Foi o caso da primeira versão para o cinema em 1965. Vinte anos depois, veio uma série de televisão com atores e atrizes famosos da TV Globo — hoje o resultado não parece de todo ruim, mas isso pouco importa.

Uma carta para Thomas Mann, nos 100 anos de ‘A Montanha Mágica’

Uma carta para Thomas Mann, nos 100 anos de ‘A Montanha Mágica’

A primeira vez que soube de sua existência foi na leitura de uma entrevista de um cantor de rock, um certo Renato Russo. O senhor não teria como conhecê-lo — nem ele, nem o rock. Li a tal entrevista num banco da Praça Cagancha, em Montevidéu. Manhã fria de inverno uruguaio, céu cinzento como sempre, de um dia qualquer do ano de 1990. Havia uma banca de revistas e jornais (local hoje em extinção) que vendia publicações brasileiras, para gente perdida ali como eu.

Marçal Aquino e Patrícia Melo narram o desmanche brasileiro Adriano Heitmann / Companhia das Letras

Marçal Aquino e Patrícia Melo narram o desmanche brasileiro

Em momentos das últimas décadas, surgiu a ideia de que o Brasil atravessava um período de desmanche. A violência urbana passou a dar o tom das imagens, narrativas e até dos sons. Pintou nas telas de cinema, livros e discos uma sociedade aterradora. Nesse caldo cultural, se destaca a produção ficcional de Marçal Aquino e Patrícia Melo. Ambos dialogam com a linguagem cinematográfica, e a novidade veio da escrita ágil, urgente e muito precisa ao captar uma realidade traumática do país.

Dias Perfeitos, de Wim Wenders, é um guia contra discursos de ódio Divulgação / Wenders Images

Dias Perfeitos, de Wim Wenders, é um guia contra discursos de ódio

Os tempos são de medo e desejo pelo fim do mundo. A festa do Oscar neste ano que o diga. O maior premiado foi o filme “Oppenheimer”, que traz o velho truque de mostrar a complexidade de figuras lamentáveis — no caso, o criador da bomba atômica. Já o prêmio de melhor filme internacional coube a “Zona de Interesse”, que conta a história da vida normalizada ao redor de um campo de concentração nazista na Segunda Guerra Mundial. Em suma, o horror ou o sentimento de fim de linha dá o tom das coisas.

O Poderoso Chefão entre a utopia da família e a História Divulgação / Paramount Pictures

O Poderoso Chefão entre a utopia da família e a História

Um cineasta disse, certa vez, que preferia a adaptação de livros medianos ou menores para o cinema. Grandes obras, segundo ele, são mais complexas e até mesmo impossíveis de se transpor da escrita para as imagens. A mão de quem filma corrige as imperfeições de uma história não tão bem elaborada, dando novo sentido à forma e ao conteúdo. É possível que o caso mais bem sucedido de versão cinematográfica de livro menor seja “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo, que ganhou outra dimensão pelo olhar do diretor Francis Ford Coppola em sua trilogia com o mesmo nome.