Autor: Eberth Vêncio

Aprendendo a matar passarinho

Aprendendo a matar passarinho

Morava numa rua de terra. Chutava bola descalço em futebóis da vida. Ninguém ganhava. Ninguém perdia. Vivia-se. Sem glórias, mas, vivia-se. Arruinava a cabeça dos dedos. Mamãe se arrepiava com o vidro de mertiolate nas mãos. Perdia as unhas nas pisaduras dos mais meninos velhos. Mamãe ralhava. Fundia a pele com a poeira que se tornava uma parte fundamental do meu corpo. Chorava lama. Suava barro.

Sem tempo para sentir

Sem tempo para sentir

Quando digo — e escrevo — que a humanidade não tem jeito, a reação das pessoas é variável. Muitos torcem o nariz, retrucam que estou exagerando, que a natureza do ser humano, regra geral, é boa. Outros, impacientes, acusam-me de pedantismo, de pessimismo, de falta de Deus no coração ou de Prozac na cabeça. A minoria cala, pensa e me dá ouvidos; consola e admite que a situação é, sim, degradante, mas, apesar das profundas dificuldades, sustenta ser necessário perseverar nos esforços de diminuir a injustiça e a desigualdade social que são, em essência, a origem de todos os males que assolam a humanidade.

As bandas de rock brasileiras mais conhecidas no mundo, de acordo com Paul McCartney

As bandas de rock brasileiras mais conhecidas no mundo, de acordo com Paul McCartney

Durante a sua última turnê pelo Brasil, já nos estertores de 2023, o ex-beatle concedeu uma entrevista ao jornalista Pedro Bial, do Grupo Globo. À certa altura da conversa, depois de Paul ter soltado elogios à bossa nova, Bial perguntou-lhe quais eram as bandas de rock brasileiras que conhecia e gostava. Paul ficou claramente desconcertado e saiu pela tangente da forma que conseguiu, enaltecendo os roqueiros brasileiros, de forma genérica, sem citar nomes, e comentando em passant que tinha visto, certa vez, um sujeito tocando em Nova York que era realmente muito bom.

Todo anglicismo será castigado

Todo anglicismo será castigado

Havia mais de um motivo para aliviar o stress, seguindo mais cedo para a happy hour: o meu check-up médico estava top, o papai estava on. Desembarquei num pub de atmosfera viril situado no subsolo de um decadente shopping center. No lobby, os meus olhos deram zoom num voluptuoso outdoor que estampava a foto de uma mulher de quadril magnífico deitada na posição da prece maometana sobre uma mesa de sinuca.

 Cristo da intolerância e do ódio

 Cristo da intolerância e do ódio

Era páscoa. Conhecia o Torquato — ou não — há quarenta e cinco anos. O nosso encontro aconteceu numa tradicional pizzaria da cidade, tempos depois da eclosão do ovo da serpente, que tinha dado vida e ascensão meteórica à extrema-direita política no país. Ele era um pouco mais velho do que eu, um amigo das antigas, um dos homens mais gentis, probos e educados com quem tive o privilégio de conviver.