Autor: Eberth Vêncio

Enjoei de viver

Enjoei de viver

— Fundamentalmente, eu me tenho me ocupado com pequenos delitos nas linhas do metrô. Tenho as mãos limpas. Nunca matei um homem. Nunca usei um estilete que fosse. Certa vez, por mero descuido, gozei na testa de uma venezuelana e ninguém deu a mínima. Pensaram que eu fosse um doido qualquer aprontando mais uma das minhas. E ainda vociferam que não existe preconceito racial neste país.

Na noite de natal, matei um cara

Na noite de natal, matei um cara

Na noite de natal, matei um cara. Revirava lixo. Também chafurdo caçambas. Fugi a pé com o antigo suéter de um bacana respingado de almôndegas e sangue. Alguém sempre encontra cabelo no molho à bolonhesa e compartilha a foto do prato, injuriado, nas redes sociais, acusando a indústria alimentícia de triturar ratos junto com os tomates.

Gente chata dá câncer

Gente chata dá câncer

Em Deus confiamos, senhor. Está grafado no livro sagrado e na moeda corrente. Não nos cabe lucubrar. Uma das missões mais nobres da polícia, além de tripudiar contra o cidadão de bem, é checar com critério as fofocas e garantir a ordem local. Tem gente que não suporta a felicidade alheia, sabe como é.

Nem todo João é de Deus

Nem todo João é de Deus

Ninguém é santo. Ninguém foi forjado a partir do barro. A carne é frágil e, quando menos se espera, surpreende, fere. Faz séculos que somos matilhas de feras domesticadas vivendo loucuras controladas. Não vou fazer troça com o desalento e a crença de quem quer que seja, contudo, reitero: não endeusem mais ninguém. Nem o Moro. Nem o Lula.