Autor: Eberth Vêncio

Cada dia é uma mentira

Cada dia é uma mentira

Cada dia é uma mentira. Elvis está voltando. Paul McCartney está morto. Jesus está trepado numa goiabeira, comendo a humanidade pelos olhos. Me liga. Amanhã a gente se vê. Ou não. Pode ser. Tomara que sim. Tomara que não. Passe lá em casa, mas, não leve aquele seu papinho furado sobre a Terra ser plana. O plano é fugirmos desse lodaçal de orgulho pela própria ignorância.

Apesar de loucas, tronchas e solitárias, as pessoas parecem flores, finalmente Foto: Ulf Andersson

Apesar de loucas, tronchas e solitárias, as pessoas parecem flores, finalmente

Você fica tão sozinho às vezes que até faz sentido. Mas, eu não queria mais ficar sozinho. Não naquele dia. Hollywood era coisa do passado. Andava à toa em San Pedro, ao sul de lugar nenhum. Buscava inspiração para escrever um livro sobre o amor, sobre gatos, sobre bêbados e bebidas, o que surgisse primeiro como inspiração. Estava saturado de escrever cartas na rua para ninguém. Sentia-me um fodido ao inventar personagens que, de fato, nunca existiram.

Genocida é a mãe

Genocida é a mãe

Matei. Matei um passarinho. Agora mesmo, matei um maldito passarinho com a droga do meu carro. Pensei que voaria, no último instante, no limiar da aproximação e da frenagem. Não voou o bichinho, coitado. Acho que era um canário. Sim. Era um canário-da-terra, espécie das mais comuns aqui no cerrado. Um ingênuo canarinho com penas verde-amarelas como a bandeira. Odeio patriotas terrivelmente mefistofélicos.

Felicidade meia-boca

Felicidade meia-boca

Os meus olhos cínicos, ou melhor, os meus olhos clínicos identificam inchaço e hematoma no seu rosto de mulher preta. Todos já sabem que foi surra do companheiro, mas, ela garante que esbarrou a cabeça numa cômoda, nada de mais, não se preocupe.