Autor: Eberth Vêncio

Deus não é besta de morar no seu coração

Deus não é besta de morar no seu coração

Odeio odiar pessoas. No duro. Eu sei que existe no mundo mais gente boa, de coração mole, do que gente ruim, áspera como o deserto. Só que os ruins são muito mais competentes em matéria de tripudiar, de propalar a burrice e a maldade como se fossem uma espécie de vantagem. Assisto pela TV às novas pílulas da propaganda política de um determinado partido, nas quais o semblante de um sujeito cria em mim enorme repulsa.

O estresse ainda vai acabar te matando

O estresse ainda vai acabar te matando

Não é a banha de porco o que mais mata. Nem a gordura trans. Nem o trânsito. Nem os trens desgovernados. Nem o governo Bolsonaro. Nem a fome. Nem a falta de chuva. Nem a chave-de-perna. Nem as guerras. Nem as balas perdidas. Nem a caxumba quando desce para as bolas. Nem os pianos que se atiram dos prédios. Nem o vício.

A alienação é a chave da felicidade Dreamstime

A alienação é a chave da felicidade

Acho o mundo uma bela porcaria. Não me refiro à chuva, aos rios, aos cânions e aos passarinhos. Falo de gente. Não há como negar, contudo, que a vida no planeta se torna mais suave, quando temos o privilégio de conviver e de aprender coisas boas com pessoas que têm a leveza, a elegância e a generosidade que tinha, por exemplo, a minha saudosa tia professora

Era um mundo desgraçado

Era um mundo desgraçado

Era um mundo desgraçado. Contudo, nada muito acima da média dos últimos cinco mil anos. De corpo presente, tinham bem umas trinta-e-muitas pessoas na reunião. Os moradores do subúrbio andavam em polvorosa por conta dos sérios distúrbios escatológicos das últimas semanas que envolviam Mofo, o mendigo. Ele — ninguém sabia o seu nome e, provavelmente, nem ele mesmo se lembrava mais — já tinha ido longe demais com aquela história de atacar as pessoas com merda.

Um amor profundo demais para ser revelado Lasse Behnke / Dreamstime

Um amor profundo demais para ser revelado

Era uma jovem branca, esguia, lisa e delicada como uma tulipa espetada nos jardins de Holambra. Era uma mulher mais livre do que uma rajada de vento. Os micróbios não cultivavam melindres de raça e de gênero, não estavam nem aí para a aparência das pessoas. Quem via cara não via coração. Era assim mesmo que o contágio funcionava. Assim era a vida. Assim era a vida.