Autor: Eberth Vêncio

Eu, um grandessíssimo idiota

Eu, um grandessíssimo idiota

Há pouquíssimas vantagens em envelhecer. Dá para contá-las nos dedos, sem se desesperar. Não falo isso de cátedra, pois, afinal de contas, ainda não cheguei ao ápice da minha decadência físico-mental, enquanto criatura animal viva. Tenho só 56. Se não me atropela um trem, se não me esmaga um piano que se atira de um prédio, pode ser que atinja esse triste e indelével patamar evolutivo que outra coisa não é senão uma deslavada involução do corpo e da mente.

O dia em que estive frente a frente com o mito Lane Erickson / Dreamstime

O dia em que estive frente a frente com o mito

Já menti várias vezes, mas, agora, eu não minto. Era preto na folhinha e não adianta tergiversar sobre os aspectos étnicos da melanina na cútis. Entrei numa padaria do condado para faturar um deputado federal da bancada terraplanista. Óbvio que não faria o serviço ali mesmo. O logradouro servia apenas como um ponto de encontro. Dali, partiríamos para algum apartamento funcional da Asa do Avião que funcionasse como um lugar mais apropriado para se comer gente usando recursos do erário.

Deus não é besta de morar no seu coração

Deus não é besta de morar no seu coração

Odeio odiar pessoas. No duro. Eu sei que existe no mundo mais gente boa, de coração mole, do que gente ruim, áspera como o deserto. Só que os ruins são muito mais competentes em matéria de tripudiar, de propalar a burrice e a maldade como se fossem uma espécie de vantagem. Assisto pela TV às novas pílulas da propaganda política de um determinado partido, nas quais o semblante de um sujeito cria em mim enorme repulsa.

O estresse ainda vai acabar te matando

O estresse ainda vai acabar te matando

Não é a banha de porco o que mais mata. Nem a gordura trans. Nem o trânsito. Nem os trens desgovernados. Nem o governo Bolsonaro. Nem a fome. Nem a falta de chuva. Nem a chave-de-perna. Nem as guerras. Nem as balas perdidas. Nem a caxumba quando desce para as bolas. Nem os pianos que se atiram dos prédios. Nem o vício.

A alienação é a chave da felicidade Dreamstime

A alienação é a chave da felicidade

Acho o mundo uma bela porcaria. Não me refiro à chuva, aos rios, aos cânions e aos passarinhos. Falo de gente. Não há como negar, contudo, que a vida no planeta se torna mais suave, quando temos o privilégio de conviver e de aprender coisas boas com pessoas que têm a leveza, a elegância e a generosidade que tinha, por exemplo, a minha saudosa tia professora