Autor: Eberth Vêncio

Bolinhos de chuva para alimentar uma mente árida

Bolinhos de chuva para alimentar uma mente árida

Depois da estiagem vinha a bonança: lágrimas de contentamento. Caía a chuva sobre a grama salpicada com pepitas de granizo. Para quebrar o gelo, pus para tocar Gene Kelly. Quem não gostou do som alto foi o casal de andorinhas de fraque preto aninhadas na sanca de gesso. Sobrevoaram-me a cabeça em rasantes ameaçadores que nem de longe me amedrontaram. Privilégio ter o teto sob o qual se morava disputado por passarinhos.

Coisas de mulher

Coisas de mulher

No último sábado, almocei em casa e fui fazer a sesta em frente à TV, como habitualmente procedo nos dias em que estou de folga. Sintonizei um canal líder de audiência e me deparei com a transmissão, ao vivo, de uma partida de futebol entre mulheres. Eram duas e trinta da tarde. Um calor de tirar pica-pau do oco. Os termômetros marcavam quase quarenta graus.

Onde fica a saída

Onde fica a saída

Estou precisando de uma mãozinha do pessoal que lida com a saúde mental das pessoas. Diagnóstico. Eu preciso de um diagnóstico. Luz. Eu preciso de uma luz. Eu sei que poderá soar aberrante, patético e antiético que eu relate nessas linhas a história de uma pessoa de quem gosto muito e que, certamente, está acometida por algum distúrbio psíquico.

Escute o seu coração, mas, não acredite em tudo que ele disser

Escute o seu coração, mas, não acredite em tudo que ele disser

Eu sou um animal. Eu sou um animal, graças a Deus. Graças a uma trepada meia-boca entre papai e mamãe numa cama que balançava e que r por causa de parafusos frouxos. Posso ter parafusos a menos na cabeça, mas, ao menos, estão bem arrochados. Ou não. Há controvérsias entre anjos e demônios. Não posso garantir. Nada é perfeito. Ninguém é perfeito. Aliás, eu prefiro a companhia dos defeitos dos seres imperfeitos que erram ao tentar acertar. Prefiro também ficar por cima, se é que me entendem.

O futuro foi ontem

O futuro foi ontem

O futuro foi ontem. Aquela sensação de fim de linha. Aquele cheiro de solidão compulsória a queimar desmedida. A névoa densa, quase táctil, descortinando sobre a cidade o seu manto tóxico. Onde estavam os prédios que espetavam o terreno como um presunto? Não enxergava mais os espigões. Presumi que fosse neblina, que fosse iminência de chuva. Eram lágrimas.