Autor: Eberth Vêncio

A vida é um filme em que o amor não morre no final

A vida é um filme em que o amor não morre no final

Aproveitou que a enfermeira de origem sudanesa tinha saído do quarto para descalçar os sapatinhos de camurça e começar os preparativos de se aninhar ao lado da companheira. A foto dependurada na parede mostrava o rosto de uma mulher caucasiana, jovial e de expressão serena, com o dedo indicador em riste, encostado na ponta do nariz, a solicitar silêncio no ambiente.

A humanidade não está piorando, só está mais conectada com o mal

A humanidade não está piorando, só está mais conectada com o mal

Não sou um indivíduo dos mais otimistas. Na verdade, tanto pé atrás, tantas reservas em relação ao papel do ser humano na Terra incomodam muito mais a mim do que a terceiros. Para começo de conversa, não me perco em lamúrias e nostalgia, ao sustentar a tese de que a humanidade está piorando a cada dia. Ao contrário, tenho certeza de que já melhoramos — e muito — com exceção, talvez, dos cuidados com a sustentabilidade do meio ambiente

Ensaio sobre a saliva

Ensaio sobre a saliva

Namorar era bacana, um trocadilho infame, um adjetivo que ninguém mais usa hoje em dia. Hoje em dia não deixa de ser uma espécie de redundância, eu sei, ora, que se dane. Prefiro ser redundante do que ser pedante. Naquela altura da vida, eu já estava me entendendo muito bem com os vírus e com as bactérias. Éramos brothers. Tinha perdido aquele medo besta de morrer. Vieram as novas paixões, outras namoradas estranhas e aquele gosto diferente em cada boca, aquele gasto descomunal de tempo e de saliva

A gente vira pedra depois que morre

A gente vira pedra depois que morre

Diz-se que o coração é o órgão vital responsável pelos sentimentos. Ora, um coração não sente bulhufas. Ele bombeia, cadente, escravizado pela esperança, vinte e quatro horas por dia, todo santo dia, como um soldado numa guerra já perdida, tomado por diligência e fé, até mesmo, um certo grau de desespero, frente àquelas situações irreversíveis, como a falência múltipla dos órgãos, quando nada mais dá certo, quando nada mais funciona a contento, quando nada resta a fazer senão parar de bater dentro de um corpo inexoravelmente falido.