Autor: Eberth Vêncio

O diagnóstico da tristeza

O diagnóstico da tristeza

Certos perrengues exame nenhum diagnostica. Lourdes perdeu a mãe fazia dois anos. Perdeu-a, literalmente. Padecia a pobre senhora de doença de Alzheimer em estágio avançado. Certo dia, alguém esqueceu aberto o portão da casa onde moravam e a velhota se espreitou feito um cachorrinho matreiro, só que sem correria, sem ansiedade e sem apavoramento. Saiu andando nos suaves passos da maturidade por um mundo repleto de paisagens e de pessoas que jamais houvera visto antes.

Saí para catar coquinho e não sei se eu volto

Saí para catar coquinho e não sei se eu volto

O mundo dá voltas. Esse mundo dá voltas ao redor da minha cabeça. Não sou um astro. Não sou o sol. Não sou um rei. Sou só um homem arredio, um tanto sem sal, um tanto sem soul, salpicado de poeira cósmica, conforme um planeta desabitado, sem água, sem atmosfera respirável, sem microrganismos vivos, sem aliados, alinhado a outras séries de conluios interplanetários desprovidos de qualquer significado astrológico relevante.

Rita Lee levou meu sorriso no sorriso dela

Rita Lee levou meu sorriso no sorriso dela

Eu juro que é melhor não ser um normal. Eu fico pensando em nós dois, perdidos na cidade nua, empapuçados de amor. Eu só quero brincar com sua cabeça, menino bonito. Tive sorte de encontrar você, que debocha do meu jeito de ser. Nem sempre tem vento. O que eu gosto é de andar na beira do abismo, arriscando minha vida por um pouco de emoção.

Toca Raul, filho da pátria

Toca Raul, filho da pátria

Minto desde que nasci. Sou uma mentira inata, contudo, desprovida de pedigree. Meus pais esperavam que viesse uma menina. Então, eu vim. Um recém-nascido com cara de joelho. E chorei nos braços do obstetra bêbado, sentindo uma vontade danada de rir na cara de todo mundo. Jamais, na história da humanidade, criança alguma nascera sorrindo. Toda família tinha um ente desequilibrado. Eu era a pedra da vez. Pedro. Vocês podem me chamar de Pedro.