Autor: Eberth Vêncio

Eu não preciso de delação premiada para confessar o quanto odeio tudo isso

Eu não preciso de delação premiada para confessar o quanto odeio tudo isso

Pode parecer veadagem da minha parte, mas senti uma vontade danada de me casar com aquele cara. Era um pilantra garrido, rico a granel, de pele boa, com um charmoso sotaque carioca, e que transmitia uma segurança do cacete. Pensei deve ter tido aulas de oratória com o cão-tinhoso. Valendo-se de um português perfeito, o pulha de black-tie garantiu que repatriaria cerca de duzentos milhões de patacas, a pedido da Polícia Federal, da Procuradoria Geral da União, do Papa Francisco e da Xuxa.

Lugar de mulher é na cozinha

Lugar de mulher é na cozinha

Enquanto lavava as louças, ouviu pelo rádio que no próximo domingo seria comemorado o Dia Internacional da Mulher. Na altura do campeonato, achava aquilo irrelevante. A meta era se matar antes do final da quaresma. Acredite quem puder: a única carne vermelha que comiam naqueles dias era o seu coração vazio servido num prato fundo.

Em São Paulo, a cada dia, uma pessoa enlouquece

Em São Paulo, a cada dia, uma pessoa enlouquece

Há certas coisas que acontecem no mundo que você nem se dá conta. No mundo, a cada dez minutos, alguém pega AIDS e o controle remoto da TV. Nos países miseráveis da África, a cada cinquenta anos, um negro come a alcatra de alguém que já morreu. Em Brasília, a cada quinzena, quinhentos correligionários saem para jantar juntos e tramar contra o erário. No Congresso Nacional, a cada semestre, dez deputados investem quase todas as suas economias obtidas com propina para abrir uma pizzaria no Plano Piloto. Na sede campestre do Supremo Tribunal Federal, a cada final de semana, ou um juiz cava um pênalti, ou anula um gol legítimo. A torcida vai à loucura. No Brasil, a cada quatro anos, um malandro veste a sua armadura de vidro e, na cara dura, garante que vai salvar a pátria amada.

50 tons de cinza: o amor é fogo que arde sem se ver?

50 tons de cinza: o amor é fogo que arde sem se ver?

Lia parcamente. Vivia porcamente. Não gostava de poesia. Nunca ouvira falar em Luís Vaz de Camões. Era viciado em sexo, mas, péssimo nas traições. Regra geral, algo sempre saía errado. Por exemplo: o lance da tortura erótica com uma vela de sete dias durou apenas sete minutos e foi um verdadeiro fiasco: o sujeito foi parar num pronto-socorro com queimaduras de segundo grau nos colhões. Em matéria de aventuras extraconjugais, era assíduo, mas, desajeitado.

A esperança não apenas já morreu, como começa a cheirar mal

A esperança não apenas já morreu, como começa a cheirar mal

Os extremistas vão fazendo escola. A coisa toda da crueldade começa bem cedo. Lembro-me, por exemplo, de uma história indigesta da minha meninice, quando um bando de pirralhos substituiu com esperma o catupiry de uma empadinha, e obrigou que um garoto do colégio degustasse a iguaria adulterada sob a sua mira implacável. Pura traquinagem de criança, deu pra notar? A sofisticação em brutalizar só toma corpo com o tempo.