O casal mais carismático das telas em reencontro que amamos! George Clooney e Julia Roberts em romance irresistível na Netflix Divulgação / Universal Pictures

O casal mais carismático das telas em reencontro que amamos! George Clooney e Julia Roberts em romance irresistível na Netflix

“Ingresso para o Paraíso” pertence a uma categoria de filmes de entretenimento que se oferece sem promessas ambiciosas, mas aposta alto no carisma de seus protagonistas para manter o interesse. A presença magnética de George Clooney e Julia Roberts, ambos em perfeita sintonia cômica, é menos um atrativo promocional e mais a espinha dorsal de uma narrativa que prefere o conforto da familiaridade à inquietação da ousadia. O reencontro entre essas duas figuras, como ex-cônjuges que se veem forçados a cooperar para sabotar o casamento da filha, ativa de imediato a memória afetiva de um tipo de comédia romântica que parecia ter sido engavetada na virada da década de 2010.

A arquitetura do enredo não surpreende — nem parece querer fazê-lo. O que o filme oferece é uma fantasia palatável, ambientada entre praias fotogênicas e rituais estilizados de uma Bali reinventada para atender ao imaginário turístico ocidental. Mas o exotismo funcional do cenário não é seu único disfarce: também há uma tentativa tímida de articular um discurso sobre liberdade individual e o rompimento com expectativas familiares, concentrado na figura de Lily, a jovem que decide abandonar uma promissora carreira no Direito para se casar com um agricultor local e viver longe da lógica urbana. No papel, trata-se de um gesto de emancipação. Na tela, porém, a guinada dramática de Lily falta densidade e preparação. O filme não se interessa por seus dilemas íntimos, tampouco lhe oferece tempo suficiente para que suas decisões amadureçam aos olhos do público. A personagem parece apenas cumprir uma função narrativa, e não existir por si mesma.

Esse esvaziamento subjetivo cobra um preço alto, pois enfraquece a única trama que poderia servir de contraponto ao humor ligeiro protagonizado pelos pais. Lily é menos uma jovem em crise do que uma abstração a ser disputada — o elo entre os dois adultos, a razão que os aproxima, o ponto de partida para suas confusões. A ausência de complexidade na relação entre ela e o noivo, Gede, também não ajuda. A conexão entre os dois é ilustrada de forma tão superficial que se torna difícil enxergá-la como algo além de um pretexto para o reencontro dos pais. Gede, por sua vez, é construído com tamanha polidez, serenidade e sensibilidade que beira a caricatura. Seu modo de vida é descrito não com nuances, mas com idealizações. A Bali que o cerca é mais uma paisagem filtrada por cartões-postais do que uma comunidade viva, com contradições, ritmos e tensões reais.

Esse descolamento da realidade revela um dos equívocos centrais do filme: a romantização de um universo que se pretende autêntico, mas que é manipulado para caber nos moldes de uma fábula turística. Ao adotar essa abordagem, o roteiro não apenas ignora as complexidades culturais do ambiente que utiliza como pano de fundo, como também reforça a lógica de que a felicidade genuína está nas escolhas simples, desde que essas escolhas se encaixem em um ideal estético agradável ao olhar estrangeiro. É uma visão do mundo que tranquiliza, mas não interroga. O gesto de fuga de Lily é apresentado como libertador, mas sem o peso real das rupturas. Tudo soa excessivamente limpo, resolvido, como se a vida pudesse ser reorganizada com a leveza de uma comédia de erros.

Ainda assim, o filme não fracassa em seus propósitos. Ele entrega exatamente aquilo que se propõe a oferecer: leveza, descontração e a ilusão temporária de que as grandes decisões da vida podem ser tomadas sob um céu azul-turquesa, ao som de diálogos espirituosos entre ex-parceiros que redescobrem a simpatia mútua enquanto tramam sabotagens afetivas. Clooney e Roberts dominam esse jogo com habilidade, transformando cada troca de farpas em um espetáculo de timing cômico. A química entre os dois sustenta boa parte da experiência, compensando as lacunas de desenvolvimento nas demais frentes da narrativa.

Talvez o maior acerto do longa esteja justamente naquilo que ele não tenta esconder: sua função de passatempo. Há algo deliberadamente nostálgico em sua estrutura, como se revisitasse um modelo de comédia romântica pré-streaming, quando a ida ao cinema incluía uma dose saudável de previsibilidade e rostos conhecidos. Essa evocação de um tempo menos cínico é parte do charme do filme. Mas charme, por si só, não é suficiente para inscrever um título na memória afetiva de quem assiste. Faltam-lhe as arestas que fazem as grandes comédias românticas se fixarem no imaginário popular: personagens com contradições críveis, dilemas com peso simbólico, e, sobretudo, um coração pulsante capaz de fazer o riso conviver com uma pontada de reconhecimento.

“Ingresso para o Paraíso” flerta com essa possibilidade, mas recua sempre que se vê diante de um risco narrativo. Em vez de explorar com sinceridade o conflito entre tradição e desejo, entre controle e liberdade, opta por diluí-los em uma narrativa que se resolve com uma dança, um pôr do sol e algumas frases bem colocadas. É o tipo de filme que entretém com eficiência, mas se apaga rapidamente da lembrança, como uma lembrança de férias que não deixa marcas — bonita nas fotos, mas esquecível no retorno à rotina. Para quem busca leveza sem atrito, pode ser o bastante. Mas para quem espera da comédia romântica um pouco mais do que distração, a viagem acaba antes de alcançar qualquer destino emocional significativo.

Filme: Ingresso para o Paraíso
Diretor: Ol Parker
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★