Nova série sueca da Netflix entra para o Top 3 mundial em menos de 24 horas após a estreia Divulgação / Creative Society Production

Nova série sueca da Netflix entra para o Top 3 mundial em menos de 24 horas após a estreia

Os anjos da guarda dos investigadores dos filmes sobre maníacos tão perversos quanto sanguinários, capazes de se encarniçar de uma pobre vítima pelo simples motivo de tê-la julgado atraente, ou, pelo contrário, achá-la feia demais; invejar-lhe os dotes artísticos; ou por querer que a humanidade expie seus pecados mediante o sacrifício de inocentes (que, claro, não são assim tão puros), estão sempre às raias da loucura. Essa é a imagem que a sueca Camilla Läckberg esforça-se para passar em “O Domo de Vidro”, na qual brinca com muitos dos espaçosos clichês das produções do gênero tratando de conferir substância dramática à narrativa valendo-se de argumentos diretamente proporcionais ao pretenso alcance mercadológico dessas publicações. Lamentavelmente, tudo na nova série de crime e drama familiar em seis episódios da Netflix soa repetitivo, insosso, demasiado farsesco e, o pior em produções dessa natureza, muito previsível. Os diretores Henrik Björn e Lisa Farzaneh fazem o que podem com um texto claudicante, alongado ao máximo em tomadas excessivamente velozes, mas que carecem de unidade.

À medida que se vive, mais cristaliza-se em nós a ideia de que a vida é um curioso desafio, em que vencida cada etapa, impõe-se-nos a seguinte, e mais outra, e outra ainda, até que essas mil situações que mais parecem testes a nossa resistência, tornem-se para nós a fonte mesma do que podemos ter de mais genuíno, a capacidade de suportar a incerteza fundamental que cobre tudo, desfaz dos planos mais ordinários com que nos atrevemos a sonhar, atropela com brutal violência o que julgamos precioso e sobrepuja-nos seu caráter sobranceiro, de pesada sombra que eclipsa qualquer chance de claridade.

A história começa com um retrospecto da vida de Lejla Ness, uma das mais respeitáveis criminologistas da Suécia, sequestrada na infância e mantida numa caixa de vidro até conseguir escapar por um descuido de seu algoz. Passam-se cerca de vinte anos e Lejla está nos Estados Unidos, para onde mudou-se há algum tempo, quando recebe o telefonema do pai, Valter, para informar-lhe que a mãe faleceu. Valter e essa mulher que serviu-lhe de referência materna, mas que nunca aparece, são os pais adotivos de Lejla, por motivos que o roteiro de Amanda Högberg e Axel Stjärne vai esclarecendo aos poucos.

A volta da protagonista a Granås, uma vila pacata do interior sueco, não surte o efeito que se poderia esperar de um material que ambiciosa o suspense, e nessas primeiras sequências já desponta a solução do mistério. Embora a interação entre Léonie Vincent e Johan Hedenberg segure “O Domo de Vidro” em muitas ocasiões, a série peca em diversos quesitos, principalmente por Läckberg ter se tornado famosa na Suécia por seus romances policiais.


Série: O Domo de Vidro 
Criação: Camilla Läckberg
Direção: Henrik Björn e Lisa Farzaneh
Ano: 2025
Gêneros: Crime/Drama 
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.