Você escolhe a cor da calcinha, o sutiã com ou sem bojo, o vestido ou a calça, a sapatilha ou o salto alto. Você escolhe a salada ou a massa, o ônibus ou o metrô, o café expresso ou o cappuccino, subir de escada ou de elevador. Você escolhe acordar cedo para correr no parque ou dormir mais uma hora. Você escolhe devolver o troco errado ou colocá-lo no bolso, torcendo para que a moça do caixa não perceba o engano. Você escolhe o penteado, o esmalte, o perfume, o filme, o que fazer no feriado. Você escolhe guardar mágoa, perdoar, amar, ser feliz, começar tudo de novo. Até a morte você pode escolher, seja em porção única ou em doses homeopáticas, mas existem duas coisas sobre as quais você não tem poder de escolha: a primeira é parar de envelhecer, a segunda é amadurecer.
Você pode aplicar botox e fazer tratamentos estéticos, praticar atividade física, cuidar da alimentação. Você pode meditar, dormir oito horas por dia, ler, rezar, ter bons amigos e estar em contato com a natureza. Você também pode escolher o trabalho, os vícios, as companhias, dormir pouco, comer muito e beber mais ainda. Mas viver nos ensina que o caminho que percorremos não faz com que os nossos corpos parem de envelhecer. Todos os órgãos têm prazo de validade, sendo seu dono vegetariano e budista ou carnívoro e alcoólatra.
Quanto ao amadurecimento, tem muito adulto que emocionalmente ainda não fez 15 anos, e talvez chegue à velhice com a mesma infantilidade de agora. É que para crescer só existe um caminho: o do sofrimento. Mas não adianta sofrer se a pessoa não souber absorver a experiência da dor. O padecimento é uma escola. Quem não aprende com ele terá que repetir o ano. Portanto, amadurecer não é uma simples questão de escolha, senão o resultado de um processo de aproveitamento da dor.
Maturidade é parar de querer mudar os outros, é cessar o movimento de procurar defeitos em loop infinito. Maturidade é aceitar as pessoas como elas são e perceber o quanto somos hipócritas em nossas imperfeições.
Maturidade é entender que todos estão certos sob suas próprias perspectivas e que não existe uma verdade absoluta. Maturidade é sublinhar, relevar e deixar ir aquilo que não é mais nosso: o amor que acabou, o amigo que se transformou, o emprego, o apartamento, o carro. É deixar para trás o que não nos cabe mais: as roupas apertadas, os sapatos que tomaram a forma dos nossos pés, os livros que tanto nos ensinaram e que podem ensinar outras pessoas. É deixar a vida acontecer de acordo com propósitos muito maiores do que os nossos simples desejos.
Maturidade é saber dosar as expectativas e compreender que desentendimentos fazem parte de todas as relações afetivas. Maturidade é estar em paz consigo mesmo. Maturidade é parar de buscar a aprovação das pessoas para ser feliz.
Maturidade é saber discernir entre o que você precisa e o que você quer, e sem drama, aprender a abrir mão das vontades imediatas. Maturidade é deixar de enxergar a felicidade apenas em coisas materiais. A felicidade não está em Paris, está na companhia que vai com a gente a Paris ou à padaria da esquina.
A verdade é que nós só atingimos a maturidade conforme vamos envelhecendo… Não dá para desvincular uma coisa da outra. Então, já que é impossível decidir parar de envelhecer, que a gente escolha florescer, mesmo sabendo que as flores não duram para sempre.
Maturidade é isso: é esse lance de querer ser flor tendo tudo para ser espinho…