Com uma execução cinematográfica tão engenhosamente articulada quanto o estilo arquitetônico que reverbera no título, a produção protagonizada por Adrien Brody impõe-se ao espectador com intensidade, exigindo resistência emocional e intelectual para acompanhar sua longa jornada narrativa. Seus exaustivos 215 minutos, longe de desgastar ou esgotar, formam uma experiência visual e dramática potente, mergulhando profundamente nas contradições humanas e históricas que cercam uma existência em deslocamento perpétuo, tendo a brutalidade da guerra e a selvageria disfarçada do capitalismo como forças que expulsam um homem de seu território, lançando-o ao desconhecido em busca desesperada por identidade e pertencimento.
A construção ficcional de László Tóth é concebida com tal complexidade psicológica que faz parecer uma espécie de espectro dos grandes mestres do modernismo arquitetônico, evocando em suas ações, temperamento e traços biográficos figuras que deixaram marcas reais em concreto armado. Brody, retomando a profundidade dramática que já o consagrara décadas atrás em papéis existencialmente densos, captura com precisão exemplar as angústias, os dilemas morais e a incompletude permanente do protagonista, cuja vida parece deslocada, assim como a metáfora visual magistral criada pela inversão da Estátua da Liberdade. A colaboração técnica do diretor de fotografia Lol Crawley e do editor Dávid Jancsó aprimora ainda mais a perspectiva simbólica, empregando uma linguagem visual eloquente, poética e dissonante, que simultaneamente reflete o caos interno e a busca incessante por equilíbrio no contexto do pós-guerra.
Na dinâmica central do filme, a parceria entre Adrien Brody e Guy Pearce resulta em um fascinante embate emocional e ideológico, amalgamando intenções criativas e conflitos éticos que intensificam o enredo à medida que avançam as etapas de uma complexa colaboração arquitetônica. O desenvolvimento dessa relação estabelece um paralelo envolvente entre a frieza das estruturas erguidas em concreto e as sutilezas sentimentais que surgem do contato humano, revelando camadas ocultas e violentas que emergem com surpreendente agressividade. Longe de simples alegoria visual ou estudo superficial de estilos arquitetônicos, a narrativa alcança um ponto de ruptura visceral, desafiando o espectador a confrontar as inquietantes implicações do encontro entre idealismo artístico e ambição econômica desenfreada.
Brady Corbet e Mona Fastvold, ao utilizarem como base parcial o livro memorialístico de Hilary Thimmesh, reforçam o compromisso com uma autenticidade peculiar, dando ao roteiro a credibilidade suficiente para questionar de forma contundente — e ocasionalmente ingênua — os efeitos devastadores do capitalismo sobre o espírito humano e o tecido social. Ao traçar tais críticas, os autores escapam de qualquer tentação simplista ou previsível, preferindo destacar ambiguidades e contradições que enriquecem a narrativa, distanciando-a do panfleto e aproximando-a de uma reflexão consistente sobre o legado de guerras, exílio e reconstruções pessoais e coletivas.
Conforme a música perturbadora e delicada de Daniel Blumberg se infiltra na trama, o espectador torna-se cúmplice de uma jornada emocional tortuosa, marcada por elementos contrastantes de beleza e desconforto, onde cada cena se oferece como fragmento essencial de um monumento narrativo maior. Ao concluir-se, a sensação deixada é menos de fechamento do que de abertura para a continuidade da reflexão, numa obra cuja ambição estética e intelectual perdura além do seu término formal, situando-se com autoridade entre os raros filmes capazes de ultrapassar o próprio cinema para habitar definitivamente o imaginário cultural contemporâneo.
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