Ser cristão parece estar na moda. Ao menos é essa a impressão que se tem diante do sucesso de séries como a aclamada “The Chosen” (2017-2024), de Dallas Jenkins, sobre a vida prosaica de Jesus, Suas preocupações e anseios, expostos por aqueles que privaram de sua companhia. Filmes como “A Influencer Divina” surfam essa onda — a exemplo de muitos outros, aliás —, desdobrando conflitos de gente nem sempre alinhada ao que pregou o Homem de Nazaré, mas buscando, embora não saiba, mudar de vida. Malgrado toda a infelicidade que pode existir no estar no mundo, uma ideia se reveste da aura de verdade absoluta quando se fala em vida ou morte: ao menor sinal de aperto, quase todos decidimos pela primeira, não obstante sintamos a ubiquidade mordaz da indesejada das gentes a nos perscrutar, sempre covarde, por mais que tentemos nos esconder. Shari Rigby se propõe a falar da morte em vida de uma mulher soterrada em miudezas, bebendo em talagadas sôfregas o que a matéria tem a oferecer-lhe, até experimentar uma reviravolta tão inaudita quanto salvadora.
A despeito de se ser ou não religioso, tudo fica mais fácil quando, por alguma razão misteriosa, acredita-se num propósito superior, muito além da vã compreensão humana e de seu animalesco imediatismo. Chegar a esse ponto é que é o busílis, o xis do problema, e mesmo quando se chega, a prova de fogo é passar por uma situação de desgaste extremo e sair do outro lado, ferido, sangrando, coxo, mas vitorioso — e só se tem certeza de que se é capaz de suportar a tempestade no momento em que a bonança já se vai levantando. Olivia, ou Liv para suas centenas de milhares de seguidores, uma influenciadora digital de sucesso, não tem por que se amofinar.
Encarnada por Lara Silva, uma mineira de Teófilo Otoni radicada nos Estados Unidos desde os seis anos, a personagem central de “A Influencer Divina” vale-se das redes sociais para multiplicar sua fortuna, até que tudo passa a dar errado. Artificioso, o texto de Susannah Eldridge, Suzanne Niles e Claire Yorita Lee despeja um rol de desgraças sobre a cabeça de Liv, que comete uma inconfidência para alguém que julgava uma amiga, perde o emprego e, por conseguinte, vê minar seu séquito virtual.
Rigby chega ao mote que justifica o longa ao incluir na história Ryan, um ex-colega de escola que hoje coordena um abrigo para pessoas em situação de vulnerabilidade, e então começam a sair da cartola os coelhos que a diretora mal podia esconder, embora Silva — que não por acaso também integra o elenco de “The Chosen” — e Jason Burkey façam muito bela figura juntos. Ao pregar apenas para os já convertidos, “A Influencer Divina” é uma premissa razoável executada de forma displicente, inábil quanto a fazer a mensagem alcançar espectadores para além do público-alvo. Isso não seria um problema grave se, desde a primeira cena, não restasse tão evidente essa intenção.
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