Nem toda crítica social precisa vir embalada em lágrimas e violinos. Às vezes, ela aparece mascarada de grotesco, recheada de humor ácido ou coberta de sangue — e é aí que ela nos choca completamente. Alguns filmes sabem brincar com o desconforto para fazer a gente rir e, logo depois, pensar: “meu Deus, isso sou eu”. Essas histórias absurdas, por mais exageradas que pareçam, funcionam como espelhos distorcidos da sociedade. Escancarando desigualdades, hipocrisias e o vazio das aparências, elas entregam mais do que entretenimento: provocam. E tudo isso sem perder o ritmo, a ironia e aquele climão perturbador que gruda. A lista a seguir traz três dessas pérolas disponíveis no streaming. Filmes que talvez te deixem com uma pulga atrás da orelha ou um nó no estômago, mas dificilmente vão passar batidos. Prepare-se para histórias esquisitas, sátiras ferozes e críticas certeiras — porque a bizarrice, quando bem feita, é um prato cheio.

Um casal viaja até uma ilha isolada para jantar num restaurante exclusivo, comandado por um chef renomado. A noite, no entanto, revela-se um espetáculo bizarro em que cada prato serve também uma dose de humilhação ou confronto. Sob camadas de tensão e requinte, o filme destrincha a elitização da arte, o culto à celebridade e a relação doentia entre consumo e status — tudo isso com humor sombrio, estética impecável e um final agridoce.

Modelos e milionários embarcam num cruzeiro de luxo que vira um caos após uma tempestade — e o que era glamour se transforma em degradação. A trama vira de ponta-cabeça as relações de poder, revelando como, diante do colapso, o valor social se reorganiza de forma brutal e inesperada. Satírico, ácido e desconcertante, o filme é uma aula sobre privilégio, vaidade e o ridículo das hierarquias — tudo isso servido com vômito, ironia e muito desconforto.

Dois astrônomos descobrem que um cometa vai destruir a Terra, mas ninguém parece se importar. O caos que se segue é uma sátira direta à forma como governos, mídia e sociedade lidam com crises reais — com negacionismo, espetáculo e ego. Entre celebridades vazias, políticos farsantes e redes sociais que transformam tudo em meme, o filme entrega uma crítica hilária e desesperadora à apatia coletiva diante do fim iminente.

Num futuro distópico, prisioneiros vivem em andares de uma prisão vertical onde a comida desce em uma plataforma, ficando cada vez mais escassa. A distribuição desigual dos recursos, o egoísmo e a solidariedade são postos à prova nesse sistema onde a sobrevivência expõe o pior — ou o melhor — de cada um. Com atmosfera claustrofóbica e metáforas afiadas, o filme é uma crítica feroz ao capitalismo e à lógica brutal da escassez fabricada.

No mundo da arte contemporânea de Los Angeles, obras misteriosas de um artista desconhecido começam a ganhar fama — e também a matar. A trama mistura horror e humor ácido para criticar o mercado de arte como produto de luxo vazio e a ganância que move os críticos, galeristas e colecionadores. Bizarro e estiloso, o filme usa o sobrenatural como metáfora para expor o quanto a arte, quando sequestrada pelo capital, vira um monstro.