Filme mais caro da história da Universal Pictures está prestes a deixar a Netflix Divulgação / Universal Pictures

Filme mais caro da história da Universal Pictures está prestes a deixar a Netflix

Desde sua estreia em 1993, “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” não apenas redefiniu o cinema de entretenimento, como fincou raízes profundas no imaginário popular, mesclando ciência, nostalgia e admiração por criaturas extintas. Décadas depois, “Jurassic World: Reino Ameaçado” carrega esse legado em seus ombros, revigorando a franquia com um equilíbrio curioso entre reverência ao passado, inovação técnica e questionamentos éticos cada vez mais sombrios. A direção de J.A. Bayona, com seu olhar refinado para a construção de suspense, insere o espectador em uma jornada visualmente deslumbrante, emocionalmente intensa e eticamente ambígua, numa tentativa ambiciosa de reanimar os fantasmas do primeiro filme sem sucumbir à simples repetição.

O retorno de Claire e Owen funciona como ponte entre o mundo caótico de “Jurassic World”e a atmosfera mais densa que permeia “Reino Ameaçado”. A inversão de suas posturas em relação aos dinossauros — com Claire assumindo agora a sensibilidade e Owen optando pelo isolamento — dá profundidade à narrativa e permite um respiro diante do turbilhão de cenas de ação. A introdução de novos personagens, como a misteriosa governanta Iris e o enigmático parceiro de Hammond, amplia a mitologia da saga e adiciona camadas nostálgicas bem dosadas, evocando o espírito do original sem se prender a ele. As participações pontuais da trilogia clássica funcionam como sutis piscadelas ao público, evitando o fan service gratuito, enquanto o uso primoroso de animatrônicos reacende a sensação de maravilhamento que se perdeu em capítulos anteriores mais dependentes de CGI.

No entanto, não é apenas o espetáculo visual que sustenta o filme. “Reino Ameaçado” mergulha com mais ousadia em temas sociais e morais, apostando em dilemas bioéticos cada vez mais espinhosos. O roteiro conduz o espectador por decisões que transitam entre o inevitável e o inaceitável, começando com o salvamento duvidoso dos dinossauros e culminando em uma escolha final tão perturbadora quanto simbólica. A ganância corporativa, representada mais uma vez por empresários que tratam vidas como cifras, é retratada de maneira quase caricatural, mas cumpre seu papel na construção de um antagonismo funcional. A crítica à mercantilização da ciência e à banalização da vida não é nova na franquia, mas aqui ganha contornos mais lúgubres, refletidos no ambiente claustrofóbico do terceiro ato — uma transição que, se por vezes soa arrastada, é compensada pela intensidade emocional e visual das sequências que se seguem.

Apesar de suas imperfeições — como diálogos expositivos, personagens secundários subaproveitados e uma leve sensação de déjà vu nos primeiros momentos — o filme se distingue por momentos de rara beleza e impacto. Há cenas capazes de arrancar lágrimas de um público acostumado a vibrar apenas com o rugido de um T. rex. Falando nela, sua presença é novamente um dos pontos altos do filme: majestosa, ameaçadora e, acima de tudo, viva, ela é a lembrança pulsante do que fez o público se apaixonar pela franquia. Ainda que os dinossauros continuem sem penas — ainda uma queixa recorrente dos mais atentos às descobertas paleontológicas —, o cuidado visual com suas texturas, movimentos e inserção cênica é inegável.

“Jurassic World: Reino Ameaçado” talvez não seja a revolução que muitos esperavam, tampouco atinge a perfeição de “O Parque dos Dinossauros”, mas sua coragem em conduzir a franquia por caminhos mais sombrios, emocionais e reflexivos deve ser reconhecida. Em vez de simplesmente repetir fórmulas, o filme opta por uma expansão narrativa que arrisca, emociona e, por vezes, perturba. Seu maior mérito é exatamente esse: fazer com que o público, mesmo após tantas versões e revisitações, ainda se importe. Seja pela tensão visceral, pela beleza pungente de algumas cenas, ou pelos dilemas éticos que continuam ecoando após os créditos finais, este capítulo prova que, mesmo em uma série sobre criaturas extintas, ainda há espaço para evolução.

Filme: Jurassic World: Reino Ameaçado
Diretor: J.A. Bayona
Ano: 2018
Gênero: Ação/Aventura/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★