A série médica da Netflix que já foi assistida 10 milhões de vezes em apenas 7 dias Divulgação / Netflix

A série médica da Netflix que já foi assistida 10 milhões de vezes em apenas 7 dias

A partir de março de 2020, a humanidade passou uma ideia menos pálida do que é verdadeiramente trabalhar sob pressão. Estávamos todos os oito bilhões de habitantes deste globo azul girando solto no universo sob o tacão da cruel pandemia de covid-19, disseminada a partir de março de 2020, responsável por confinar em casa gente de todos os estratos sociais ávida por alguma diversão, alguma forma de alento — e por matar alguns milhões também. Foi só aí que encaramos de maneira peremptória a consequência diabolicamente palpável de séculos de degradação ambiental, resultado de uma convivência promíscua e afrontosa entre seres humanos e o meio que os suporta.

Este cenário de genuíno caos torna-se ainda mais severo à medida que avultam a inépcia e o descaso com que se conduziu o problema em determinadas partes do mundo, como brasileiros estamos cientes, o que por seu turno presta-se a um caldo onde a paranoia é o mal dentro do mal. Médicos e profissionais de saúde ganharam o status de mártires e, parece, nunca mais serão vistos como gente como a gente, com seus tantos medos ilógicos e quereres ordinários, ideia que “Pulse” trata de matar no ovo, sem anestesia. Em dez episódios, a série de Zoe Robyn escancara os intestinos do pronto-socorro do Maguire Medical Center, especializado em traumas, cheio dos médicos mais bonitos e ambiciosos de Miami.

À medida que se vive e se ganha alguma intimidade com a vida, nota-se que o maior prazer dessa entidade divina e diabólica que mantém-nos aqui por um tempo muito curto ou longo demais é nos submeter a seus caprichos, cujo genuíno pretexto ninguém no mundo jamais pode alegar conhecer. Quase sempre, a convivência entre médicos e pacientes é feita de idas e vindas, altos e baixos, situações em que a parte do jaleco branco desaconselha muitas das atitudes que definem e justificam a existência de quem responde pelo lado mais frágil da relação. Entretanto, o pulo do gato em “Pulse” é mirar como se saem esses seguidores de Hipócrates tendo de lidar com questões que vão muito além de seu ofício, embora haja no roteiro de Robyn e outros sete colaboradores uma dose generosa de sangue e grito para quem não os dispensa.

No primeiro capítulo, chega ao Maguire uma equipe de jogadores de futebol americano cujo treinador foi o responsável pela colisão que vitimou com gravidade alguns atletas. Danielle Simms, a traumatologista interpretada por Willa Fitzgerald, é quem administra o fluxo de pacientes e é em torno dela que o enredo toma forma. Já nos primeiros minutos, “Pulse” captura a atenção do espectador pela maneira como vai elaborando a tensão entre Danny e os colegas, especialmente Xander Phillips, um colega que acusa de assédio, mas com o qual é obrigada a conviver pelo bem do serviço. Fitzgerald e Colin Woodell são os responsáveis pelas melhores cenas, e no décimo episódio, “Kennedy”, Robyn prepara a surpresa que muita gente vai detestar. Também envolvendo Danny, a desditada.


Série: Pulse
Criação: Zoe Robyn
Ano: 2025
Gênero: Drama
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.