Casamentos nascem da paixão, solidificam-se com o amor e se fortalecem nas dificuldades. Com a chegada dos filhos, um casal precisa abrir mão de pequenas alegrias que antes eram essenciais para que a relação não se consumisse em si mesma, e aí começam os problemas. Os rebentos crescem, ansiando por liberdade, por lugar no mundo, por coisas que os pais, por mais devotados que venham a ser, talvez nunca lhes possam dar, e tudo entra numa espiral de insânia e anômala beleza que há quem diga, não sem razão, ser necessária uma magia qualquer para restaurar a ordem.
A paternidade cai como uma bomba no colo de Gabriel Gaitán, um produtor de TV viciado em trabalho, forçado a parar e tentar entender o que está acontecendo na sua vida e na de Benito, o garoto que dizem ser o filho cuja existência desconhecia. Gallo, como é chamado pelos colegas, é o perfeito arquétipo de anti-herói adorável, e Salvador Espinosa sabe-o bem. O diretor pontua “O Melhor do Mundo” com passagens entre melodramáticas e de comédia quase escrachada, equilibrando seu filme entre essa figura exuberante e um menino doce e cheio de carências.
Depois de vencer as metafísicas preocupações quanto à consistência dos detritos fisiológicos; as agonias da adaptação à escola, o primeiro ambiente em que os filhos passam a responder por suas próprias escolhas com alguma autonomia; a batalha inglória e quase trágica da adolescência; a incerteza quanto a ter feito um bom trabalho, observando de longe (mas não muito) o desempenho profissional dos eternos pimpolhos, torcendo e rezando para que se firmem na carreira de uma vez por todas, as mães gozam de algum respiro para, afinal, cuidar de si mesmas e fazer boa parte das coisas que foram protelando durante a vida. Será mesmo? Gallo não teve chance de passar por nenhuma dessas experiências, não porque não tenha querido, mas porque só fica sabendo que pode ser pai de Benito quando o garoto já cresceu o bastante para entender que alguma coisa em sua história não está encaixando.
O roteiro de Tato Alexander volta um par de casas até que o espectador perceba como era a vida de Gallo antes da chegada de Benito, preparando quem assiste para a primeira reviravolta, suave. Nenhum dos dois sabe até onde Alicia Uliarte, a finada mãe do garoto, mentiu ou disse a verdade quanto à origem dele, e então o possível pai decide tomar a frente do problema do seu jeito: levando o possível filho a todos os lugares por onde Alicia passou em busca de pistas o mais robustas que conseguirem e, quiçá, respostas. A dobradinha entre Michel Brown e Daniel Abrego basta para segurar os 83 minutos de “O Melhor do Mundo”, que termina na hora certa, sem que nada sobre ou falte.
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