Venderam milhões, ganharam capas reluzentes, traduções mundo afora e espaço cativo nas estantes de aeroportos. Foram tratados como marcos editoriais, conselhos de cabeceira, salvadores de almas inquietas. Mas bastou o check-out para que sumissem de cena — ou melhor, ficassem para trás, esquecidos em criados-mudos, camas desfeitas e gavetas trancadas em hotéis por todo o Brasil.
Uma grande rede hoteleira, presente nas principais capitais, compartilhou — sob a condição de anonimato, claro — uma lista generosa com quase uma centena de livros frequentemente abandonados por hóspedes. A partir desse levantamento inusitado, esta reportagem reuniu os 10 títulos nacionais mais esquecidos nos quartos.
O que o ranking revela? Um certo padrão de leitura em trânsito: dominam obras que flertam com a ficção e a autoajuda — gêneros que prometem entretenimento rápido com uma pitada de iluminação pessoal. São best-sellers que vendem como água mineral, mas que, curiosamente, acabam tratados como garrafinhas vazias: úteis por um instante, descartáveis no minuto seguinte.
Alvo de desconfiança da crítica e de desprezo silencioso dos leitores mais exigentes, esses livros, ainda assim, seguem campeões de venda. Só não garantem o retorno à mala. Confira a seguir os 10 brasileiros mais esquecidos em hotéis — e tente não esquecê-los antes do fim da lista.

O livro conta a história do casal Dalva e Venâncio, cuja relação é abalada após uma perda causada pelo ciúme extremo de Venâncio. A tragédia altera profundamente a dinâmica do casal. Lucy, uma prostituta conhecida na cidade, torna-se o terceiro vértice de um triângulo amoroso envolvendo os protagonistas. A narrativa explora temas como ciúme, sexualidade, violência e as consequências das decisões dos personagens. A metáfora do rio aparece relacionada a fluidos corporais e emoções humanas, ilustrando momentos da trama. O romance tem estrutura que oscila entre intensidade e suavidade, acompanhando os conflitos emocionais dos envolvidos.

Trata-se de um livro devocional estruturado para leituras diárias durante o ano inteiro. Cada página traz reflexões e mensagens curtas, inspiradas na relação entre o leitor e Deus. O autor sugere que esses encontros cotidianos podem ajudar a solucionar problemas pessoais, emocionais e espirituais. A ideia central do livro é apresentar Deus como presença constante, próxima e disponível, personificando-o como alguém com quem se toma café. O objetivo das mensagens é provocar mudanças na vida dos leitores através da espiritualidade cotidiana, simplificada e direta.

A psicanalista Ana Suy apresenta um livro estruturado em diálogos sobre amor e solidão, baseados em experiências reais em consultórios e salas de aula. A autora parte de relatos cotidianos para refletir sobre as dificuldades que as pessoas têm nas relações afetivas. Não se trata de uma obra acadêmica, mas de um conjunto de conversas transcritas e organizadas em capítulos independentes. O livro apresenta diferentes perspectivas sobre amor e frustrações emocionais comuns. O objetivo é promover uma reflexão acessível sobre solidão e dificuldades amorosas na vida contemporânea.

O livro narra a vida de uma menina superdotada chamada Milagre, criada por um homem diagnosticado como psicótico. Ela enfrenta situações relacionadas a preconceitos sociais, dificuldades emocionais e conflitos familiares. Ao longo da narrativa, Milagre aprende estratégias emocionais para lidar com dificuldades e sofrimentos pessoais e coletivos. O livro propõe uma reflexão sobre os efeitos da convivência com pessoas com transtornos psicológicos, questionando limites entre sanidade e loucura. A trama acompanha o crescimento emocional da protagonista em meio a circunstâncias difíceis e imprevisíveis.

A narrativa é centrada na vida de Fio Jasmim, um personagem masculino negro que enfrenta dilemas ligados à masculinidade, violência e afetividade. Por meio da vida do protagonista, o livro aborda complexidades das relações entre homens e mulheres negras, destacando impactos sociais e emocionais sobre os envolvidos. O livro trabalha conceitos ligados à identidade racial e de gênero, além das contradições vividas pelos personagens. A escrita de Evaristo explora experiências cotidianas, apresentando contextos comuns da população negra brasileira, com foco em conflitos emocionais, afetivos e sociais.

Vedina, uma mulher insatisfeita e infeliz em seu casamento, abandona o filho em um momento de descontrole. Logo após se arrepender e voltar para buscá-lo, descobre que a criança desapareceu sem vestígios. Este evento dispara uma investigação psicológica sobre as relações familiares: o pai é alcoólatra, a mãe controladora e os irmãos, gêmeos, têm uma relação marcada por rivalidades. O livro alterna entre dois períodos: o dia do abandono e os acontecimentos anteriores ao episódio. O enredo aborda questões familiares, psicológicas e sociais, culminando no momento-chave em que as duas linhas narrativas se encontram.

A médica Ana Claudia Quintana Arantes aborda o tema da morte a partir da experiência com Cuidados Paliativos no Brasil. O livro trata da importância de aceitar a finitude como parte natural da existência, propondo reflexões práticas sobre como viver melhor até o fim da vida. Segundo a autora, o principal temor não deveria ser morrer, mas sim ter uma vida desperdiçada ou mal aproveitada. O livro também inclui reflexões sobre humanidade e a maneira como a sociedade lida com a morte, apresentando uma abordagem positiva e direta sobre a questão.

Quatro jovens do interior do Paraná se mudam para um apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, buscando estudo e oportunidades profissionais. Com dificuldades financeiras, decidem organizar jantares exclusivos e clandestinos para uma elite carioca disposta a pagar caro por pratos exóticos. Logo se envolvem em uma rede de crimes, descobrindo matadouros ilegais e tráfico de corpos humanos. Progressivamente, os protagonistas percebem em si mesmos uma inclinação para atos violentos antes inimagináveis. O livro explora temas como moralidade, violência urbana e os limites éticos diante da sobrevivência financeira.

Jessé Souza analisa o fenômeno recente de adesão de grupos populares à extrema direita no Brasil. Ele investiga os motivos que levam pessoas economicamente vulneráveis a apoiar pautas políticas que parecem contrárias aos seus próprios interesses materiais. Para exemplificar, concentra-se especialmente em dois grupos sociais: os pobres brancos e os negros evangélicos. O autor busca explicações sociológicas para entender como questões raciais, religiosas e regionais influenciam esses comportamentos políticos. O livro examina como as identidades coletivas se relacionam com a ascensão da direita populista e conservadora no país.

Luzia do Paraguaçu é uma mulher marcada por estigmas sociais devido a supostos poderes sobrenaturais. Órfão de mãe, Moisés é acolhido e educado por Luzia, que trabalha como lavadeira em um mosteiro da região. Ela educa o menino com rigidez religiosa, moldando seu caráter e visão de mundo. A narrativa aborda temas como colonialismo, racismo estrutural, intolerância religiosa e exclusão social. Ambientado no interior brasileiro, o romance mistura questões pessoais dos personagens com uma crítica mais ampla das estruturas históricas do país.