Eu tenho o estranho hábito de chegar na hora aos meus compromissos. E, por conta disso, costumo ficar esperando as outras pessoas chegarem — no mínimo, meia hora depois da hora marcada. No Brasil é assim, ninguém respeita horário, eu sei disso, é a nossa cultura. Mas eu gosto de chegar na hora, é o meu jeito — nem pareço brasileiro.
Já foi pior. Eu costumava chegar uns dez ou quinze minutos antes da hora marcada, mas, com o tempo, consegui me adaptar e, hoje em dia, consigo até atrasar uns dez minutos no máximo. Mesmo assim, normalmente, sou o primeiro a chegar.
Enquanto espero, o que eu faço? Se for numa consulta, terapia ou encontro com uma pessoa apenas, o que faço é sacar do meu celular e mandar ver em algum joguinho. Já estou craque em todos os tipos de Paciência: a original, a Freecell, a Spider, a Pyramid… O problema é que estou cada vez melhor e, portanto, gastando menos tempo para completar os joguinhos — o que exige que eu pesquise por novos métodos de aguentar essas esperas.
No entanto, quando o compromisso é uma reunião com várias pessoas, pega mal ficar jogando paciência enquanto se espera. Como, no Brasil, as reuniões só começam quando todos estão presentes — ou, pelo menos, a maioria —, há um enorme espaço de tempo a se preencher enquanto se espera a chegada de todos. E, enquanto se espera, o que se faz? Se conversa. Qualquer conversa que não seja sobre o tema da reunião. Então, é preciso arrumar um assunto, pois, se tem uma coisa que brasileiro não gosta, é de silêncio. O silêncio, por aqui, é considerado constrangedor. É melhor tentar uma conversa constrangedora.
Talvez, no exterior, as pessoas consigam ficar quietas à espera de que todos cheguem a uma reunião — isso quando esse fato estranhíssimo de não aparecerem todos na hora acontece. Mas brasileiro não consegue ficar quieto. Então, é preciso conversar com pessoas com quem não se tem intimidade — e quase sempre por um tempo relativamente longo, porque, normalmente, quem atrasa leva isso a sério e não atrasa só um pouquinho.
Mas conversar sobre o quê? A ideia é apenas trocar palavras e frases para evitar o silêncio. Falar bobagem sobre temas inofensivos — quase sempre sobre meteorologia: “E o tempo, hein?”, “Que calor! Tá quente demais!”, “Será que vai chover?”. O importante é gastar o tempo de espera conversando sobre assuntos que não possibilitem nenhum tipo de discordância. Política? Nem pensar! Futebol? É perigoso. Falar mal dos outros? De jeito nenhum! Discussão ali, nem pensar. Então, fica-se variando em torno de “que calor!” e “será que vai chover?”.
Por que estou falando sobre isso? É apenas um toque para as pessoas que costumam chegar atrasadas a reuniões. Não é o meu tempo que vocês estão roubando — não estou preocupado com isso, o meu tempo que se foda! O problema é que vocês me obrigam a ficar conversando com pessoas com quem não quero conversar sobre assuntos sem interesse e sem graça por um longo tempo! Isso é chato pra cacete! Na próxima vez que vocês cagarem na cabeça de quem chega na hora, lembrem-se disso!