Novo suspense com Nicole Kidman já é o mais visto mundialmente do Prime Video no mundo inteiro Divugação / Amazon Studios

Novo suspense com Nicole Kidman já é o mais visto mundialmente do Prime Video no mundo inteiro

Sob o verniz elegante que reveste “Holland”, há algo que pulsa de maneira irregular — uma inquietação que não se revela com clareza, mas também nunca desaparece por completo. Dirigido por Mimi Cave, cuja estreia em “Fresh” demonstrou certa inclinação para o grotesco embalado em estética pop, o filme parte de uma premissa instigante: a implosão silenciosa de uma vida construída com precisão, abalada por uma suspeita aparentemente banal. Mas o que poderia evoluir para um thriller psicológico de densidade crescente se fragmenta em uma narrativa hesitante, cuja sofisticação visual contrasta com a pobreza dramática de seus desdobramentos.

A encenação de uma perfeição artificial — casas impecáveis, casamentos harmoniosos, jantares entre vizinhos sorridentes — é minada aos poucos por rachaduras que jamais se tornam rupturas. A ameaça é difusa, como se pairasse em algum lugar entre a mente da protagonista e a fachada cuidadosamente erguida ao seu redor. No entanto, o roteiro opta por cultivar essa ambiguidade de forma inerte, como se o simples aceno à paranoia bastasse para gerar tensão. Falta-lhe, contudo, o mergulho necessário para transformar a sugestão em abismo. Em vez disso, “Holland” caminha em círculos, refém de sua própria indecisão narrativa.

Nicole Kidman, que interpreta a mulher no centro desse vórtice emocional, atua como o único eixo sólido em uma estrutura que vacila. Sua performance opera em camadas sutis, sugerindo perturbação sob um verniz de controle absoluto. Ela domina o espaço com uma serenidade dissonante, cuja eficácia está menos na expressividade e mais naquilo que se recusa a demonstrar. É esse recuo calculado que dá à personagem um ar enigmático, embora o filme não ofereça material suficiente para que essa ambiguidade floresça em algo mais devastador. A contenção de Kidman é, paradoxalmente, o elemento mais eloquente da experiência.

Ao seu redor, Gael García Bernal e Matthew Macfadyen transitam por cenas com correção, mas sem marcas duradouras. Funcionam como peças utilitárias de um quebra-cabeça que parece belo à distância, mas não sustenta o encaixe das partes quando observado com atenção. A relação entre os personagens, suas motivações e conflitos, carece de gravidade — não pela ausência de temas densos, mas pela recusa da narrativa em assumir riscos. Há ecos de infidelidade, de colapso psíquico, de segredos enterrados sob o asfalto da vida suburbana. Nada, contudo, é suficientemente explorado a ponto de produzir impacto.

“Holland” beira o impecável. A direção de arte e a fotografia compõem quadros que sugerem uma ordem perturbadora, como se o próprio ambiente conspirasse contra seus habitantes. Mas essa estética precisa, quase asséptica, não encontra ressonância no desenvolvimento da trama. O filme se contenta em brincar com convenções — do horror, da comédia, do drama familiar — sem jamais assumir uma identidade própria. A indecisão de gênero, aqui, não funciona como artifício provocador, e sim como sinal de um projeto que hesita diante de suas possibilidades.

A estrutura circular da narrativa reforça essa sensação de estagnação: situações retornam com pequenas variações, diálogos insinuam tensões que não se concretizam, e a progressão dramática cede espaço a uma repetição contemplativa que mais frustra do que instiga. O suspense é continuamente adiado, como se o filme temesse enfrentar as consequências do próprio enredo. A estratégia de sugerir sem revelar, de acumular presságios sem resolvê-los, pode ser eficaz quando há uma lógica emocional subterrânea. Em *Holland*, porém, esse jogo permanece na superfície, e o que poderia ser sugestivo torna-se evasivo.

A leitura que alguns espectadores podem fazer — de que o filme espelha a instabilidade psicológica da protagonista, borrando os limites entre realidade e delírio — é válida, mas não suficiente para justificar o vazio narrativo que se instala. O risco, nesse caso, é confundir complexidade com falta de decisão. E embora haja sequências em que a mise-en-scène flerta com o desconforto genuíno, o acúmulo de sugestões sem payoff acaba neutralizando o efeito acumulativo que o suspense exige.

“Holland” parece querer dizer algo sobre a artificialidade das relações modernas, sobre o preço do conformismo e a fragilidade das estruturas sociais que sustentam a ideia de normalidade. Mas suas alegorias são tão difusas que perdem a força. O que resta é uma experiência visualmente sedutora, pontuada por uma atuação irrepreensível de Nicole Kidman, mas carente de substância dramática. É um filme que encanta o olhar e frustra o intelecto — belo como vitrine, mas opaco como narrativa.

No lugar de um clímax, o que se encontra ao final de “Holland” é um retorno ao ponto de partida, como se tudo tivesse sido apenas uma variação silenciosa do mesmo desconforto inicial. A promessa de um mergulho se desfaz antes do impacto. E Mimi Cave, mesmo demonstrando controle estético, parece evitar as decisões que poderiam transformar um enredo promissor em experiência inesquecível. O resultado é um filme que fascina pelo que poderia ser, mas permanece irremediavelmente aquém de si mesmo.

Filme: Holland
Diretor: Mimi Cave
Ano: 2025
Gênero: Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★