Inspirado em eventos reais, “A Incrível História da Ilha das Rosas” apresenta a singular empreitada de Giorgio Rosa, um engenheiro italiano que, no final dos anos 1960, decide fundar sua própria nação em alto-mar. Movido por um ideal libertário e pelo desejo de escapar das restrições burocráticas da Itália, ele constrói uma plataforma flutuante nas águas internacionais do mar Adriático, proclamando sua independência. No entanto, o que começa como um ato de desafio se transforma rapidamente em uma crise diplomática, atraindo a atenção da mídia e provocando a ira do governo italiano.
O longa-metragem transita entre a comédia e a crítica social, equilibrando um tom leve com reflexões sobre liberdade e opressão estatal. A narrativa se estrutura como um embate clássico entre o pequeno e o poderoso: um indivíduo obstinado contra uma estrutura governamental intransigente. O roteiro evita uma abordagem simplista e insere nuances que enriquecem a trama, destacando tanto o caráter visionário de Giorgio Rosa quanto as dificuldades inerentes à sua iniciativa.
A ambientação é um dos pontos altos do filme, recriando com precisão o fervor contestatário da década de 1960. O figurino, os veículos e a direção de arte mergulham o espectador na época, enquanto a trilha sonora, repleta de músicas emblemáticas, amplia essa imersão nostálgica. Essa fidelidade estética, no entanto, não se limita à reconstituição visual, mas também permeia o espírito da obra, que dialoga com os impulsos revolucionários daquele período.
No centro da narrativa, o protagonista é interpretado com uma combinação de ingenuidade e obstinação que o torna carismático. Sua visão romântica e, por vezes, ingênua contrasta com a frieza do governo italiano, que não enxerga sua iniciativa como uma excentricidade inofensiva, mas sim como uma afronta ao poder estabelecido. Os antagonistas, representados por figuras políticas e burocratas, oscilam entre o cômico e o ameaçador, reforçando o tom satírico do filme.
Apesar de seu ritmo envolvente, o filme poderia aprofundar alguns aspectos técnicos da construção da ilha e suas implicações práticas. Embora a narrativa foque no conflito político e nas implicações filosóficas do experimento, detalhes sobre a logística da empreitada poderiam enriquecer ainda mais a história, tornando-a mais verossímil e imersiva.
“A Incrível História da Ilha das Rosas” é uma produção que diverte e instiga reflexões sobre os limites da liberdade individual e a rigidez do aparato estatal. Sem recorrer a discursos didáticos, o filme convida o espectador a questionar as barreiras impostas pela sociedade e a considerar até que ponto é possível desafiar o status quo sem enfrentar represálias. Fica no ar uma pergunta incômoda: é possível escapar completamente das engrenagens do sistema ou a liberdade absoluta é apenas uma ilusão romântica?
★★★★★★★★★★