Último capítulo de uma das mais icônicas trilogias de terror dos últimos 5 anos está no Prime Video Divulgação / A24

Último capítulo de uma das mais icônicas trilogias de terror dos últimos 5 anos está no Prime Video

Em meio à proliferação de filmes que resgatam o slasher sob uma ótica contemporânea, “X” se insere como uma tentativa ambiciosa de repaginar o gênero sem perder sua essência visceral. Ti West, cineasta que transita entre o horror atmosférico e o pastiche referencial, constrói uma narrativa que se equilibra entre o tributo e a subversão. Seu filme explora não apenas as convenções do terror setentista, mas também a intersecção entre violência e sexualidade, refletindo sobre a maneira como essas duas forças moldaram tanto a indústria pornográfica quanto o cinema de horror. Com claras alusões a “O Massacre da Serra Elétrica”, “Sexta-Feira 13” e “Halloween”, “X” aposta em uma abordagem metalinguística, criando um jogo de espelhos entre a produção de um filme adulto e o desenrolar de um banho de sangue inevitável. Contudo, essa proposta audaciosa nem sempre se traduz em inovação genuína.

Visualmente, a obra se destaca pela meticulosidade estética. West imprime um rigor formal que remete ao cinema exploitation dos anos 1970, utilizando texturas granuladas, paleta de cores saturada e um trabalho de câmera que privilegia composições evocativas. O filme também se beneficia de uma montagem que intercala a encenação do falso longa pornográfico com a escalada de tensão no rancho onde a equipe se hospeda, criando um paralelismo narrativo que reforça a dualidade temática. No elenco, Mia Goth entrega uma performance notável ao interpretar dois papéis distintos, adicionando camadas psicológicas à história. Brittany Snow, Martin Henderson e Kid Cudi desempenham bem seus arquétipos, conferindo carisma e dinamismo ao grupo. Já Jenna Ortega, ainda que relegada a um papel mais contido, contribui para a dinâmica entre os personagens, ampliando o espectro dos clichês tradicionalmente explorados pelo gênero.

Entretanto, por mais que “X” ostente um refinamento técnico admirável, ele não escapa de armadilhas recorrentes em filmes que se propõem a homenagear e desconstruir simultaneamente. A pretensão de elaborar um comentário sofisticado sobre o slasher acaba resultando em um excesso de autoconsciência, tornando algumas passagens previsíveis e menos impactantes do que a proposta inicial sugere. O roteiro se ancora em uma estrutura familiar, reaproveitando convenções sem acrescentar uma perspectiva realmente transgressora. A discussão sobre a transição da pornografia para o VHS, por exemplo, surge como um elemento de contextualização histórica, mas carece de profundidade suficiente para se tornar um diferencial marcante. Da mesma forma, a contraposição entre a libertinagem dos protagonistas e a repressão dos antagonistas recai em um embate moral já exaustivamente explorado, sem grandes variações que justifiquem sua recorrência.

O ritmo cadenciado do primeiro ato constrói uma atmosfera inquietante, mas o clímax, quando enfim atinge sua catarse sangrenta, segue uma cartilha convencional. As mortes são graficamente bem executadas e demonstram um apreço pela violência estilizada, mas não se distanciam da fórmula que o próprio filme tenta redesenhar. O que poderia ser uma reinvenção do slasher, com camadas adicionais de crítica e inovação, acaba por reafirmar suas convenções ao invés de remodelá-las. “X” se posiciona como um terror visualmente sofisticado e bem encenado, mas que se mantém aquém de sua própria ambição. Entre a reverência e a repetição, West cria um longa que flerta com a originalidade, mas nunca a alcança plenamente, deixando a sensação de que seu maior trunfo — a promessa de algo realmente transformador  — permanece fora de seu alcance.

Filme: X
Diretor: Ti West
Ano: 2022
Gênero: horror/Mistério/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★