Nem parece filme, parece a vida real — o filme que vai mexer nas suas feridas para depois curá-las, na Netflix Divulgação / Netflix

Nem parece filme, parece a vida real — o filme que vai mexer nas suas feridas para depois curá-las, na Netflix

Em meio a uma infinidade de narrativas que oscilam entre o drama e a comédia, algumas se destacam por buscar um equilíbrio cuidadoso entre a emotividade e a leveza. “Tal Pai, Tal Filha”, dirigido por Lauren Miller Rogen, entra nesse território híbrido ao explorar os vínculos familiares sob uma perspectiva que combina melancolia e humor, sem abdicar de uma sensibilidade acessível. A trama acompanha Rachel Hamilton (Kristen Bell), uma publicitária obcecada pela carreira que, no dia do casamento, é abandonada pelo noivo diante dos convidados. O choque do abandono, no entanto, se intensifica com a reaparição inesperada de seu pai, Harry (Kelsey Grammer), um homem que esteve ausente por mais de vinte anos. Em um desenrolar impulsionado pelo acaso e por um misto de impulsividade e embriaguez, ambos embarcam no cruzeiro que havia sido planejado como lua de mel da protagonista, dando início a uma jornada de acertos de contas tardios.

O eixo central do filme se sustenta na interação entre Bell e Grammer, cuja química impulsiona a narrativa, ainda que dentro de um roteiro que não se arrisca em grandes reviravoltas. Grammer traz uma densidade interessante ao papel de um pai que, entre tentativas desajeitadas de reconexão e lapsos de genuína vulnerabilidade, se equilibra entre o remorso e a esperança de redenção. Bell, por sua vez, entrega uma performance eficiente, ainda que sua personagem oscile entre a autonomia e a passividade dentro do próprio arco narrativo. Seth Rogen, em uma participação menor, acrescenta um toque de comicidade, embora sua presença não seja essencial ao desenvolvimento da trama, funcionando mais como um elemento decorativo do que como peça-chave na progressão dramática.

A direção de Rogen é segura e funcional, mas sem grandes ousadias formais. O roteiro transita por caminhos relativamente previsíveis, evitando riscos narrativos que poderiam elevar a densidade emocional da história. Há momentos de autenticidade e ternura na construção do vínculo entre pai e filha, mas a resolução dramática falta um impacto mais marcante, parecendo seguir um curso previamente determinado sem desvios inesperados. Além disso, a presença ostensiva de inserções publicitárias acaba enfraquecendo a imersão na trama, especialmente considerando que a protagonista trabalha na área de marketing. A ironia da situação é evidente: o excesso de product placement compromete a credibilidade da história, tornando-a, em alguns momentos, uma vitrine de consumo mais do que um espaço de desenvolvimento narrativo.

Ainda assim, “Tal Pai,  Tal Filha” consegue cumprir sua função como um drama leve sobre reconciliação e amadurecimento tardio. A relação entre Rachel e Harry se constrói através das experiências compartilhadas a bordo do cruzeiro, desde atividades interativas até diálogos introspectivos que exploram o peso do tempo perdido e a possibilidade de reconstrução afetiva. O filme não se propõe a reinventar o gênero, mas entrega uma experiência envolvente para quem aprecia histórias sobre laços familiares em processo de reparação. 

Embora não traga grandes surpresas ou um impacto duradouro, “Tal Pai, Tal Filha” se mantém dentro de sua proposta com competência. É uma narrativa que oferece momentos de leveza e atuações convincentes, ainda que sem uma assinatura memorável. Para quem busca uma história de reencontros e segundas chances, desde que com expectativas ajustadas, o filme é uma escolha satisfatória dentro de seu espectro modesto.

Filme: Tal Pai, Tal Filha
Diretor: Lauren Miller Rogen
Ano: 2018
Gênero: Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★