Há uma tendência recorrente em narrativas voltadas ao público jovem: oscilar entre o encantamento pueril do amor idealizado e a tentativa — muitas vezes tímida — de capturar o entrecho realista das conexões humanas em tempos de vínculos efêmeros. A escolha de retratar afetos com os pés no chão não é, por si só, uma ousadia narrativa; o risco está em como essa escolha é formalmente tratada. No caso deste filme, a promessa de verossimilhança resulta mais em contenção estética do que em densidade dramática, mais em gestos ilustrativos do que em conflitos que reverberem. É uma obra que aspira à autenticidade, mas recua diante do necessário desassossego criativo.
A rigidez das estruturas tradicionais do romance adolescente parece, aqui, um molde do qual o roteiro não ousa escapar. Ainda que o enredo envolva questões familiares e laços de amizade típicos do universo juvenil, tudo se resolve com a previsibilidade de um manual. O discurso do realismo se esvai quando os diálogos soam esquemáticos e as situações caminham por trilhas já percorridas, sem abrir desvios nem provocar deslocamentos. Há uma intenção declarada de contemporaneidade, mas ela se esgarça diante de uma condução que hesita em aprofundar os conflitos internos dos personagens ou em tensionar minimamente a linha narrativa.
Há também uma inquietante tentativa de importação estética. Ao emular soluções visuais consagradas pelo cinema comercial norte-americano, a direção se afasta da possibilidade de criar uma identidade singular. Essa escolha acarreta perdas não apenas formais, mas também emocionais: o filme, ao tentar parecer universal, termina por se tornar genérico. A edição mal articulada e a sonoplastia descompassada — especialmente na versão dublada — sabotam a imersão, instaurando uma sensação de desajuste que fragiliza até mesmo as poucas cenas com potencial de impacto.
As atuações, embora diligentes, não conseguem transcender o material que têm em mãos. Khushi Kapoor entrega lampejos de intensidade, mas sua performance ainda carece de camadas. Ibrahim Ali Khan, em seu debute, alterna entre caricatura e apatia, como quem ainda busca um ponto de equilíbrio expressivo. Ambos funcionam dentro dos limites do que é exigido, o que talvez diga mais sobre a superficialidade do roteiro do que sobre os próprios intérpretes. Trata-se de um elenco que parece obedecer mais à estrutura do filme do que tentar alterá-la ou enriquecer suas nuances.
A aposta em uma linguagem alinhada à hiperconectividade da Geração Z é compreensível, mas empobrecedora. Ao mimetizar a velocidade das interações digitais, o roteiro sacrifica o silêncio, a hesitação e a profundidade — elementos que, no amor, são mais reveladores do que qualquer diálogo ágil. A estética da fluidez emocional, se não for tensionada por alguma ruptura narrativa, transforma-se em trivialidade. O que deveria ser uma investigação dos afetos contemporâneos se reduz, então, a uma sequência de gestos previsíveis, mais informados por algoritmos do que por pulsões humanas.
Essa escolha por uma suposta leveza — vendida como acessibilidade — esconde, na verdade, um receio de complexidade. O filme prefere não arriscar, e nisso reside sua maior limitação: a ausência de ambição. A segurança da fórmula impede que a história respire para além do previsto, limitando suas possibilidades de ressonância. Mesmo os momentos que sugerem algum desvio logo se dissolvem em soluções fáceis, como se houvesse pressa em retornar ao lugar-comum.
Funciona, talvez, como entretenimento imediato, destinado a um público que não exige muito além de uma distração palatável. Mas isso não o exime de responsabilidade criativa. Um romance juvenil pode ser leve e, ainda assim, impactante. Pode ser acessível e, ainda assim, inesquecível. Quando essas possibilidades são negligenciadas, o que resta é uma experiência rasa, que se consome no mesmo ritmo em que se esquece. O filme parece se contentar com ser um entre tantos — e, justamente por isso, nunca se torna algo que valha ser lembrado.
★★★★★★★★★★