Papel que foi feito para Tom Cruise, mas acabou nas mãos de Angelina Jolie em filme que é um espetáculo extravagante de ação, na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Papel que foi feito para Tom Cruise, mas acabou nas mãos de Angelina Jolie em filme que é um espetáculo extravagante de ação, na Netflix

Desde os primeiros minutos, “Salt” deixa claro que sua prioridade é a entrega de um espetáculo de ação incessante, descompromissado com qualquer pretensão de realismo absoluto. Sob a direção de Phillip Noyce e protagonizado por Angelina Jolie, o filme se insere na linhagem dos thrillers de espionagem que apostam em reviravoltas constantes, sequências eletrizantes e um ritmo implacável. As críticas sobre a plausibilidade dos acontecimentos ou das proezas da protagonista ignoram o ponto essencial: dentro da lógica interna do gênero, o exagero não é um defeito, mas um elemento fundamental. A narrativa constrói um universo em que a adrenalina é o combustível central, e a suspensão da descrença faz parte do contrato implícito entre o filme e o espectador.

O roteiro de Kurt Wimmer, inicialmente concebido para Tom Cruise, ganhou novas camadas ao colocar Angelina Jolie no papel principal. A troca não apenas reformulou a abordagem da história, mas também conferiu uma dimensão singular à protagonista Evelyn Salt, agente da CIA cujo passado obscuro e lealdades incertas estruturam o suspense do enredo. Quando um desertor russo a acusa de ser uma espiã infiltrada com a missão de assassinar o presidente da Rússia, Salt se vê forçada a fugir, equilibrando a necessidade de provar sua inocência com a urgência de proteger seu marido. A narrativa se sustenta sobre essa ambiguidade, e Jolie conduz sua personagem com precisão cirúrgica, transitando entre vulnerabilidade e letalidade sem jamais perder a coerência.

A ação, elemento motor da experiência, é orquestrada com energia por Noyce. Das perseguições frenéticas às coreografias brutais de combate corpo a corpo, cada sequência é meticulosamente planejada para manter o espectador em estado de alerta. A brutalidade é estabelecida desde a cena inicial, em que Salt é torturada em uma prisão norte-coreana, e escala progressivamente à medida que a protagonista desafia seus perseguidores com engenhosidade e agressividade inabaláveis. O filme constrói sua identidade em cima dessa progressão implacável, e, embora as reviravoltas possam soar excessivas em alguns momentos, elas garantem que a tensão nunca se dissipe.

Os coadjuvantes, interpretados por Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor, cumprem funções narrativas estratégicas, ainda que sem grandes arcos individuais. Schreiber assume um papel ambíguo como chefe de Salt, mantendo-se enigmático até os momentos finais, enquanto Ejiofor encarna a obstinação incansável do agente em sua perseguição à protagonista. No entanto, o filme pertence inteiramente a Jolie, cuja presença magnética e comprometimento físico elevam a personagem a um patamar raro no gênero. Sua performance equilibra a fisicalidade extrema com sutilezas psicológicas que impedem Salt de se reduzir a uma caricatura de heroína imbatível.

O retorno à figura do vilão russo, elemento narrativo há tempos relegado a segundo plano em Hollywood, resgata ecos da Guerra Fria e insere um subtexto político que, embora não seja aprofundado, adiciona camadas à trama. No entanto, o roteiro, ao tentar infundir uma complexidade maior por meio de conspirações internacionais e corrupção interna na CIA, por vezes exagera na quantidade de informações, tornando certos trechos mais confusos do que envolventes. O desejo de conferir densidade à história nem sempre se traduz em um thriller genuinamente sofisticado, e há momentos em que a trama se enreda em sua própria tentativa de ser mais engenhosa do que necessário.

Ainda que “Salt” não subverta o gênero, ele entrega com eficiência aquilo a que se propõe: um thriller enérgico, repleto de ação bem coreografada e sustentado pelo carisma de sua protagonista. As eventuais incongruências narrativas e um terceiro ato que poderia ser mais conciso não chegam a comprometer a experiência. Para quem busca uma narrativa ágil e eletrizante, repleta de perseguições vertiginosas e combates bem executados, o filme se mostra uma escolha certeira. Não pretende reinventar o cinema de ação, mas cumpre com precisão sua promessa fundamental: manter o espectador imerso em uma jornada de pura adrenalina, impulsionada pelo magnetismo de Angelina Jolie e pela intensidade de uma história que nunca perde fôlego.

Filme: Salt
Diretor: Phillip Noyce
Ano: 2016
Gênero: Ação/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★