Liam Neeson retorna ao centro da ação em “Sem Escalas”, reafirmando sua presença dominante em um gênero que parece ter encontrado nele seu arquétipo ideal. Desta vez, ele encarna um agente de segurança aérea marcado por traumas e dependências, cujo voo rotineiro se converte em um jogo de vida ou morte. A ameaça vem na forma de mensagens enigmáticas: se uma transferência milionária não for realizada, um passageiro morrerá a cada vinte minutos. O filme, então, embarca em uma sucessão de reviravoltas que, embora flertem com o improvável, mantêm um domínio absoluto sobre a atenção do espectador.
O trunfo da narrativa está na maneira como dosa ação e suspense sem cair na armadilha da gratuidade. Ao contrário de produções que apostam no espetáculo de explosões e confrontos incessantes, “Sem Escalas” se estrutura como um thriller dedutivo, onde cada personagem carrega uma sombra de suspeita. O confinamento dentro da aeronave não apenas intensifica a sensação de claustrofobia, mas também amplifica a paranoia. O espectador se vê constantemente compelido a questionar cada gesto e olhar, enquanto o filme manipula suas expectativas com astúcia. Ainda que algumas reviravoltas desafiem a lógica, a construção da tensão sustenta a imersão.
O longa se sobressai pela criatividade na cinematografia. O uso engenhoso da câmera para capturar o dinamismo dentro de um espaço restrito reforça a atmosfera opressiva sem comprometer a fluidez da ação. Ângulos meticulosamente planejados garantem que o espectador sinta o aperto das cabines e a inquietação crescente, consolidando um aspecto técnico que pode passar despercebido, mas que é crucial para a experiência. O ritmo, por sua vez, se mantém pulsante do início ao fim, sem concessões a momentos de dispersão.
Neeson, como de costume, imprime intensidade ao personagem, equilibrando a brutalidade física com a exaustão emocional de um homem em ruínas. Seu desempenho sustenta o filme, mesmo quando a plausibilidade de algumas sequências beira o exagero. O modo como se desloca com destreza em espaços reduzidos — como o banheiro apertado da aeronave — adiciona um elemento quase cartunesco à narrativa. Julianne Moore, embora entregue uma performance competente, acaba subaproveitada, limitada a uma função que poderia oferecer muito mais camadas à trama.
O roteiro se destaca por sua estrutura engenhosa de mistério, mas tropeça ao se apoiar em conveniências narrativas que, se não chegam a comprometer o envolvimento, enfraquecem a coerência interna. Algumas pistas são bem plantadas, enquanto outras soluções soam arbitrárias. Quando o responsável pelos atentados finalmente se revela, a justificativa para seus atos se aproxima do absurdo — algo que o próprio filme parece reconhecer ao adotar um tom de ironia. Ainda assim, a experiência não perde seu valor: mesmo quando a lógica se esgarça, a condução do suspense assegura que a jornada continue eletrizante.
“Sem Escalas” não pretende reinventar o gênero, tampouco aspira a uma sofisticação narrativa impecável. Sua força reside na habilidade de construir um entretenimento sólido, repleto de tensão e momentos engenhosamente coreografados. Se a lógica às vezes fraqueja, a adrenalina compensa. Como um bom thriller de ação, o filme sabe exatamente o que entregar — e o faz com precisão. É o tipo de experiência que, embora não desbrave novos territórios, cumpre seu papel com maestria: manter os olhos do público presos à tela, sem espaço para desviar o olhar.
★★★★★★★★★★