Proibido para cardíacos: thriller de suspense com Viola Davis e Gerard Butler vai fazer seu coração parar na boca, na Netflix Divulgação / Overture Films

Proibido para cardíacos: thriller de suspense com Viola Davis e Gerard Butler vai fazer seu coração parar na boca, na Netflix

Em um universo de thrillers que frequentemente se rendem a fórmulas previsíveis, “Código de Conduta” aparece com uma promessa intrigante: a de um jogo intelectual entre um homem movido pelo desejo de justiça absoluta e um sistema que falhou com ele. Clyde Shelton, interpretado por Gerard Butler, é um engenheiro brilhante cuja vida é despedaçada pelo assassinato brutal de sua esposa e filha. Quando o promotor Nick Rice (Jamie Foxx) aceita um acordo judicial que permite que um dos culpados saia impune, Clyde decide assumir para si a tarefa de corrigir o que considera um erro inaceitável. Sua vingança, no entanto, não é apenas emocional; é meticulosa, engenhosa e surpreendentemente articulada, colocando em xeque não apenas seus alvos diretos, mas a própria estrutura do sistema judicial.

A grande força do filme está na maneira como manipula a moralidade do espectador. Clyde não é um simples justiceiro; ele se torna uma espécie de arquiteto do caos, desmontando com precisão cirúrgica as engrenagens de uma instituição que ele considera corrompida. Sua posição no tabuleiro é fascinante: ora se apresenta como uma vítima ultrajada, ora como um estrategista calculista, capaz de prever e influenciar cada movimento de seus oponentes. Essa ambiguidade moral é o que torna a primeira metade do longa tão envolvente. A cada reviravolta, a história desafia o espectador a escolher um lado, forçando-o a questionar até que ponto o desejo por justiça pode justificar métodos extremos.

No entanto, à medida que a trama se aproxima do fim, essa construção cuidadosa se desmorona. O roteiro, que inicialmente parecia se distinguir pela inteligência e sofisticação, abre mão de sua própria coerência em favor de uma resolução apressada e desprovida da engenhosidade que marcou os dois primeiros atos. A estratégia de Clyde, que até então se sustentava em um xadrez meticulosamente jogado, subitamente se reduz a um plano genérico e previsível. A frustração é inevitável: o gênio que manipulou toda uma cidade com acertos inequívocos termina sucumbindo a uma armadilha pueril. O impacto da narrativa, que poderia ter atingido um clímax memorável, se dissipa em uma solução que parece desleixada e incompatível com a promessa inicial.

O filme também tropeça ao investir em um antagonismo pouco equilibrado. Butler entrega um Clyde que oscila entre a frieza absoluta e acessos de fúria contidos, tornando o personagem simultaneamente enigmático e aterrorizante. Já Jamie Foxx, como Nick Rice, se apresenta de maneira inexpressiva, sem a presença cênica necessária para contrapor um oponente de tal magnitude. Em um thriller que depende do embate psicológico entre seus protagonistas, essa assimetria compromete a tensão narrativa. Foxx não transmite a sensação de urgência ou de ameaça real, tornando a caça a Clyde menos instigante do que poderia ser.

Apesar dessas falhas, “Código de Conduta” não é um thriller descartável. Sua primeira metade brilha ao explorar a relação entre vingança e justiça, e o personagem de Butler é, sem dúvida, um dos mais intrigantes do gênero nos últimos anos. A execução de sua vingança, enquanto mantém a sofisticação, desafia o espectador a se perguntar se o sistema falhou com Clyde ou se ele mesmo se tornou parte do problema. Infelizmente, ao optar por um final convencional e sem a mesma astúcia que construiu seu protagonista, o filme desperdiça a chance de se tornar um clássico moderno. Em vez de uma conclusão que estivesse à altura da inteligência de Clyde, temos um desfecho que o reduz a um clichê, enfraquecendo a força do que poderia ter sido uma narrativa memorável.

Filme: Código de Conduta
Diretor: F. Gary Gray
Ano: 2009
Gênero: Ação/Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★