Kevin Costner investiu todo seu patrimônio nessa obra. Valeu a pena? Está na Max! Divulgação / New Line Cinema

Kevin Costner investiu todo seu patrimônio nessa obra. Valeu a pena? Está na Max!

Desde os primeiros minutos de “Horizon: Uma Saga Americana”, fica evidente que Kevin Costner não economizou em ambição. Concebida como uma tetralogia monumental, a saga pretende capturar a vastidão e a complexidade da expansão do Oeste americano. Contudo, se o objetivo era redefinir o western para uma nova geração, este primeiro capítulo demonstra que a grandiosidade de uma visão não basta sem uma estrutura narrativa sólida para sustentá-la.

A proposta de Costner é ousada: entrelaçar múltiplas histórias em um grande mosaico que, ao longo dos filmes seguintes, ganhará coesão e profundidade. No entanto, em sua ânsia por estabelecer as bases dessa jornada épica, “Horizon” padece de um problema essencial: seu próprio formato dilui a imersão. A montagem dispersa fragmenta a experiência, com personagens sendo introduzidos e descartados sem um desenvolvimento que justifique sua relevância. Momentos que deveriam carregar peso dramático soam apressados ou truncados, como se trechos cruciais tivessem sido sacrificados em nome de uma duração controlada. O resultado é um filme que se posiciona como um prólogo prolongado, mas que falha em justificar sua autonomia dentro do projeto maior.

A produção oscila entre o impressionante e o genérico. Há cenas que evocam a grandiosidade dos grandes épicos do gênero, mas a ausência de um olhar mais autoral na composição dos quadros impede que “Horizon” se estabeleça como uma experiência cinematográfica verdadeiramente marcante. Ao optar por um tratamento visual excessivamente polido, o filme acaba suavizando a dureza do período retratado. O western sempre se destacou pela sua capacidade de capturar a brutalidade e a beleza inóspita da paisagem, mas aqui essa relação com o cenário parece enfraquecida. Falta a imponência de planos amplos que transformam o ambiente em um personagem por si só — algo que mestres do gênero, de John Ford a Sergio Leone, dominaram com maestria.

A amplitude da narrativa também impõe desafios para o desenvolvimento dos personagens. A fragmentação do roteiro impede que se estabeleça uma conexão emocional genuína com os protagonistas, e muitos deles permanecem esboços de figuras que poderiam ser fascinantes, mas que carecem de profundidade. Relações surgem sem contexto, conflitos se resolvem sem uma construção adequada e a sensação predominante é de que falta coesão entre as diversas linhas narrativas. Como resultado, o filme acaba sendo menos envolvente do que poderia — uma falha significativa para uma história que pretende ser grandiosa.

Outro aspecto que merece destaque é a trilha sonora, que, embora funcional, não possui o impacto necessário para elevar as cenas. O faroeste sempre teve na música um elemento essencial de sua identidade, e aqui a composição carece da força evocativa que poderia tornar momentos específicos mais memoráveis. Além disso, a reconstituição histórica oscila entre o detalhado e o artificialmente asseado. Se por um lado há um esforço evidente em retratar a complexidade da conquista do Oeste, por outro, o filme evita se comprometer com uma abordagem visceralmente realista, permanecendo em um limbo entre o revisionismo e o convencionalismo.

Dito isso, “Horizon” não é um fracasso absoluto. O filme acerta ao abordar a dualidade da colonização, reconhecendo os conflitos entre pioneiros e nativos, além de explorar as tensões internas da sociedade da época, como os resquícios da Guerra Civil e o papel do exército na expansão territorial. Esse esforço para conferir nuances ao enredo é louvável, mas a execução deixa a desejar. Há uma narrativa potente esperando para emergir, mas, por enquanto, ela se encontra soterrada sob uma estrutura que privilegia a quantidade de histórias em detrimento da qualidade com que são contadas.

Ao final, a questão que permanece não é “o que acontecerá nos próximos capítulos?”, mas sim “por que este primeiro filme não conseguiu se sustentar sozinho?”. O excesso de confiança na continuidade prejudica sua própria identidade, tornando-o uma experiência que depende inteiramente do que está por vir. Se Costner conseguir afinar a estrutura narrativa nos capítulos seguintes, há potencial para que “Horizon” se torne, de fato, a epopeia que almeja ser. Mas, por ora, o que temos é um começo hesitante, que precisa encontrar seu eixo para justificar sua grandiosidade.

Filme: Horizon — Parte 1
Diretor: Kevin Costner
Ano: 2024
Gênero: Drama/Épico/Faroeste
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★