Obra-prima inestimável, vencedora de 3 Oscars, de Christopher Nolan, no Prime Video Divulgação / Warner Bros

Obra-prima inestimável, vencedora de 3 Oscars, de Christopher Nolan, no Prime Video

Christopher Nolan desafia convenções narrativas ao reconstruir a evacuação de Dunquerque em “Dunkirk”, um exercício de imersão cinematográfica que transcende abordagens convencionais do gênero. Em vez de explorar a psicologia dos personagens, Nolan transforma a guerra em um fluxo incessante de sobrevivência e tensão, onde tempo e espaço se entrelaçam de forma singular.

A estrutura narrativa fragmentada do filme divide a ação em três perspectivas temporais distintas: a luta dos soldados presos na praia, a jornada dos civis atravessando o mar e o combate dos pilotos nos céus. Essa escolha não apenas desafia a linearidade tradicional, mas também sublinha a relatividade do tempo sob condições extremas. No entanto, ao privilegiar a mecânica da tensão sobre a empatia individual, o filme estabelece uma distância emocional que pode não ressoar com todos os espectadores.

O rigor técnico de “Dunkirk” é inquestionável. Nolan opta por filmagens em locações reais, efeitos práticos e um uso mínimo de CGI, garantindo um realismo quase palpável. A fotografia, assinada por Hoyte Van Hoytema, explora composições meticulosamente calculadas, enquanto a edição de Lee Smith confere ritmo implacável à experiência. A trilha sonora de Hans Zimmer não apenas reforça a urgência da narrativa, mas também se torna um elemento estrutural, sincronizando-se com os eventos da trama para amplificar a tensão.

Em termos de atuações, o elenco assume um papel quase anônimo dentro do escopo da guerra. Fionn Whitehead, como Tommy, representa a figura universal do soldado tentando sobreviver, enquanto Mark Rylance encarna a resiliência dos civis que se arriscam no resgate. Tom Hardy, mesmo com poucos diálogos, transmite com precisão a determinação de um piloto que sabe que cada segundo conta. A abordagem minimalista das performances reforça a intenção do diretor: transformar cada personagem em parte de um organismo maior, sem individualismos excessivos.

No entanto, essa frieza também pode ser interpretada como um ponto de fragilidade. Ao se distanciar do drama humano tradicional, “Dunkirk” renuncia a uma dimensão emocional mais profunda, que poderia tornar seus eventos ainda mais impactantes. Ademais, a intersecção das três linhas temporais, embora engenhosa, gera ocasionalmente pequenas incongruências que podem distrair os espectadores mais atentos.

“Dunkirk” é uma experiência sensorial que redefine as possibilidades narrativas do gênero. Ao reduzir a guerra a seu aspecto mais visceral — o instinto de sobrevivência — Nolan cria uma obra que, para alguns, é um triunfo estilístico e imersivo; para outros, um experimento frio e distante. O que é inegável é que o filme provoca reflexões sobre o papel do espectador no cinema de guerra e sobre como a história pode ser contada de formas que desafiam convenções estabelecidas.

Filme: Dunkirk
Diretor: Christopher Nolan
Ano: 2017
Gênero: Ação/Épico/Guerra
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★