Desde que a Naughty Dog introduziu “Uncharted” ao universo dos videogames, a franquia consolidou-se como uma das mais icônicas do gênero de ação e aventura. Com personagens carismáticos, enredos envolventes e sequências eletrizantes, o legado da saga estabeleceu um padrão elevado para narrativas interativas. Portanto, a adaptação cinematográfica de Ruben Fleischer não poderia escapar das expectativas exageradas e do receio inerente a transposições desse porte. “Uncharted: Fora do Mapa” tenta equilibrar espetáculo e fidelidade ao material original, mas o resultado final oscila entre momentos de dinamismo e uma superficialidade que compromete sua força dramática.
A trama acompanha Nathan Drake (Tom Holland), um jovem bartender cuja infância foi marcada pelo fascínio por histórias de exploradores e pela relação enigmática com seu irmão Sam. Quando Victor “Sully” Sullivan (Mark Wahlberg) surge com a promessa de desvendar um tesouro perdido de Fernão de Magalhães, Nate se vê envolvido em uma jornada que mistura ambição, traições e enigmas históricos. O roteiro, assinado por Rafe Judkins, Art Marcum e Matt Holloway, aposta em um ritmo acelerado, porém sacrifica profundidade e desenvolvimento emocional em prol da ação incessante. Se, por um lado, essa abordagem mantém o espectador entretido, por outro, impede uma conexão genuína com os personagens.
A escolha de Tom Holland para o papel de Nathan Drake gerou reações ambíguas. Enquanto seu carisma e energia inegáveis conferem vitalidade ao personagem, a decisão de rejuvenescer Nate altera significativamente sua essência em relação aos jogos. A experiência e a ironia mordaz que marcaram a versão original foram substituídas por um herói ainda em construção, o que pode decepcionar os fãs mais puristas. Mark Wahlberg, por sua vez, encarna um Sully que pouco remete ao veterano sagaz dos jogos, funcionando mais como um mentor genérico do que como o personagem multifacetado que se esperava.
Os antagonistas, interpretados por Antonio Banderas e Tati Gabrielle, oferecem presenças marcantes, mas são limitados por um roteiro que não lhes concede a devida complexidade. Enquanto o vilão de Banderas se encaixa na figura do magnata inescrupuloso, seu arco é previsível e pouco impactante. Já Braddock, vivida por Gabrielle, exibe fisicalidade e determinação, mas carece de uma construção que vá além da ameaça superficial.
No quesito técnico, “Uncharted” acerta ao entregar sequências de ação bem coreografadas, especialmente as inspiradas diretamente nos jogos. A icônica cena do cargueiro aéreo, por exemplo, reproduz com eficiência a adrenalina dos momentos mais empolgantes da franquia. No entanto, a fotografia excessivamente polida e as paletas de cores vibrantes retiram a aspereza e a sensação de perigo que caracterizavam a estética dos jogos. Além disso, a insistência em efeitos visuais superlativos, como sobrevivências inverossímeis a quedas e colisões, dilui o impacto das cenas e reduz a imersão na narrativa.
Se há algo que o filme consegue preservar, é a sensação de aventura descompromissada que permeia a franquia. Para espectadores que buscam entretenimento leve, “Uncharted” cumpre sua função ao entregar duas horas de escapismo visualmente exuberante. No entanto, para os que esperavam um mergulho mais profundo na mitologia e nas relações interpessoais que definiram a saga nos videogames, o filme fica aquém do potencial. O material-base oferecia oportunidades para uma exploração mais instigante dos personagens e da mitologia histórica envolvida, mas a produção opta por um caminho seguro, sem grandes riscos narrativos.
Com indícios claros de uma possível continuação, “Uncharted” estabelece um ponto de partida que, embora funcional, carece de uma identidade mais robusta. Caso a franquia avance no cinema, será necessário um refinamento na construção dos protagonistas e uma abordagem menos formulaica para que a essência do jogo realmente se manifeste na tela grande. Por ora, o longa é uma aventura comercial eficiente, mas ainda distante de capturar a alma que tornou “Uncharted” uma referência no universo dos games.
★★★★★★★★★★