Em um universo de cores vibrantes e fantasia despretensiosa, “Loja de Unicórnios” se desenha como uma fábula contemporânea sobre o embate entre a imaginação e as exigências da vida adulta. A protagonista, Kit, vivida por Brie Larson, encarna o dilema de quem se vê forçado a abandonar seus devaneios para se adequar a um mundo que privilegia a conformidade. Rejeitada pela escola de arte e imersa em um ambiente corporativo onde sua autenticidade parece não ter espaço, Kit se depara com uma proposta insólita: uma loja que promete entregar a ela um unicórnio, símbolo máximo de sua crença infantil na magia e no extraordinário.
O longa, dirigido e estrelado por Larson, transita entre o surreal e o mundano, construindo sua atmosfera por meio de contrastes bem delineados. De um lado, a rigidez de um universo que insiste em suprimir a espontaneidade; de outro, a exuberância da loja e a figura excêntrica do Vendedor, interpretado por Samuel L. Jackson, que assume o papel de guia nesse mergulho lúdico. A trama, embora aparentemente simples, funciona como uma alegoria para o processo de amadurecimento, questionando se crescer precisa, de fato, significar renunciar àquilo que nos faz singulares.
A maior virtude do filme reside na forma como traduz visualmente essa dualidade. O design de produção investe em paletas vibrantes e cenários que contrastam o pragmatismo do escritório com a atmosfera onírica da loja. Larson, na direção, opta por uma abordagem sutil, sem excessos estilísticos, permitindo que a história se sustente na autenticidade emocional de sua protagonista. Sua atuação, marcada por nuances entre a ingenuidade e a frustração, confere à Kit uma tridimensionalidade que a impede de se tornar apenas um arquétipo da sonhadora inconformada.
Entretanto, a narrativa apresenta desafios. O ritmo, especialmente no segundo ato, oscila entre sequências que impulsionam a jornada da protagonista e subtramas que faltam maior impacto. O arco envolvendo seu chefe, por exemplo, soa desnecessário, enquanto a relação de Kit com seus pais, que poderia oferecer um contraponto mais substancial ao conflito central, não se desenvolve com o mesmo vigor. Ainda assim, o filme recupera seu fôlego no desfecho, que, sem recorrer a sentimentalismos fáceis, entrega uma resolução condizente com sua proposta.
No aspecto temático, “Loja de Unicórnios” toca em questões universais sem perder seu caráter lúdico. O filme questiona o que significa, de fato, amadurecer: seria apenas ceder às expectativas alheias ou encontrar uma forma de preservar aquilo que nos torna autênticos? A resposta não é entregue de maneira didática, mas insinuada em pequenas escolhas de Kit ao longo da trama. Esse equilíbrio entre a fantasia e uma reflexão mais profunda sobre identidade e propósito confere ao longa um charme particular, mesmo que sua execução nem sempre alcance todo o potencial sugerido.
“Loja de Unicórnios” não busca apenas encantar com sua estética ou sua premissa peculiar. Há um subtexto que convida o espectador a reconsiderar as concessões feitas em nome da maturidade e a reconhecer que, em meio às imposições do mundo, talvez o verdadeiro desafio seja aprender a crescer sem sufocar a própria essência.
★★★★★★★★★★