Harlan Coben virou um dos nomes mais prolíficos do suspense contemporâneo, tecendo tramas onde o inesperado reina absoluto. A recente adaptação polonesa de “Apenas um Olhar”, inspirada em sua obra, evidencia tanto o fascínio do público pelo estilo do autor quanto as limitações inerentes à repetição de sua fórmula narrativa. Em seis episódios, a minissérie estabelece um enredo sinuoso que se propõe a desafiar o espectador, mas acaba por revelar os vícios e virtudes recorrentes em suas adaptações.
O ponto de partida já traz um duplo mistério que se desdobra em direções imprevisíveis: um prisioneiro confessa a um promotor ter matado a própria filha em um atentado frustrado, enquanto Greta, uma mulher atormentada por pesadelos, revive mentalmente um incêndio trágico ocorrido durante um show. Aos poucos, as duas tramas se entrelaçam em um intrincado jogo de memórias distorcidas, verdades soterradas e disputas que ultrapassam o âmbito pessoal. O pano de fundo envolve uma banda de rock, uma composição musical reivindicada por diferentes personagens e segredos guardados por uma década, tudo embalado por uma atmosfera de paranoia crescente.
No entanto, apesar da promessa de um enigma robusto, a série tropeça nas mesmas armadilhas que costumam comprometer adaptações de Coben: personagens tomam decisões ilógicas, reações soam desproporcionais, e a progressão dos eventos frequentemente exige do espectador uma dose excessiva de suspensão da descrença. Embora o suspense seja bem dosado para manter o interesse, a sobrecarga de coincidências prejudica a verossimilhança, tornando algumas revelações menos impactantes do que poderiam ser.
Ainda assim, há méritos na abordagem visual da produção. Diferente de outras adaptações do autor, que seguem um padrão estético mais convencional, “Apenas um Olhar” se beneficia de uma direção que valoriza composições visuais elaboradas e uma fotografia que amplifica o clima de inquietação. A ambientação polonesa adiciona uma textura diferenciada à narrativa, ainda que a história, em sua essência, pudesse se desenrolar em qualquer outro cenário ocidental sem grandes prejuízos à trama. A performance da protagonista, por sua vez, traz camadas emocionais que compensam, em certa medida, as fragilidades do roteiro.
O verdadeiro desafio imposto pela minissérie não está apenas na complexidade do mistério, mas no excesso de personagens e subtramas que se acumulam sem uma condução inteiramente orgânica. A resolução final busca conectar os pontos dispersos, mas exige um esforço considerável para que cada peça do quebra-cabeça se encaixe de maneira satisfatória. O que deveria ser uma conclusão impactante se torna, em alguns momentos, um exercício de retrospectiva truncada, em que a narrativa depende mais da surpresa do que de uma construção sólida ao longo dos episódios.
“Apenas um Olhar” se posiciona, assim, como um thriller que sabe capturar a atenção, mas que se mantém refém dos artifícios característicos de Coben: a ênfase no choque sobre a coerência, a proliferação de segredos interligados e a estrutura que parece seguir um molde pré-definido. Para os já familiarizados com suas histórias, a minissérie oferece mais uma dose de mistério competente, mas sem grandes inovações. No fim, o verdadeiro enigma talvez não esteja dentro da trama, mas na capacidade do autor de reciclar sua própria fórmula sem perder o interesse de sua audiência fiel.
★★★★★★★★★★