Romance que é uma jornada incrível e inspiradora de amor próprio e autoconhecimento, na Netflix Divulgação / Netlflix

Romance que é uma jornada incrível e inspiradora de amor próprio e autoconhecimento, na Netflix

Entre tantas narrativas sobre transformação pessoal, poucas conseguem equilibrar sensibilidade e leveza como “Em Uma Ilha Bem Distante”. O longa conduz o espectador pela jornada de Zeynep, uma mulher que, ao perder a mãe, descobre ter herdado uma casa na Croácia. O choque dessa revelação surge em meio à sua frustração com a rotina sufocante, um casamento falido e a indiferença da família. A partir desse ponto de ruptura, Zeynep toma uma decisão que altera completamente sua trajetória: abandona sua antiga vida e embarca para um destino que, sem que ela soubesse, guardava não apenas um legado material, mas um chamado para reencontrar a si mesma.

O enredo ressoa com outras histórias de renascimento, como “Shirley Valentine”, ao apresentar uma protagonista que se liberta das amarras da previsibilidade. No entanto, “Em Uma Ilha Bem Distante” se diferencia ao se colocar uma dimensão cultural mais pronunciada: a viagem de Zeynep à Croácia não é apenas um escape, mas uma imersão em suas próprias raízes. Sua relação com Josip, um habitante local, amplia essa descoberta, pois ele a desafia a enxergar o verdadeiro valor do que herdou. Mais do que um possível romance, a interação entre eles funciona como um catalisador para sua transformação: cada conversa, cada gesto e cada olhar compartilham o peso de uma história que vai além do palpável.

A força do filme está, sobretudo, na construção de sua protagonista. Naomi Krauss imprime a Zeynep uma autenticidade rara, fugindo dos arquétipos da heroína romântica convencional. Sua expressão reflete o cansaço de anos de negligência, mas também a gradativa redescoberta do prazer em viver. Não se trata de uma mudança abrupta ou idealizada, mas de uma jornada crível, pontuada por momentos de hesitação e vulnerabilidade. A dinâmica entre ela e Bogdan Diklić, que interpreta Josip, é outro acerto: sua presença não a resgata, mas lhe oferece uma perspectiva diferente, contribuindo para seu amadurecimento sem roubar seu protagonismo.

“Em Uma Ilha Bem Distante” se beneficia de uma fotografia que transforma a Croácia em um elemento narrativo essencial. As paisagens são captadas com uma suavidade que traduz a sensação de liberdade e renovação vivida por Zeynep. O mar azul profundo, as ruas de paralelepípedo, os casarões de pedra — cada detalhe contribui para o tom acolhedor e introspectivo da história. A trilha sonora, por sua vez, equilibra-se entre a melancolia e a esperança, sem recorrer a melodias excessivamente manipuladoras.

Ainda que contenha elementos comuns ao gênero da comédia romântica, o filme evita a superficialidade ao estruturar sua narrativa com inteligência emocional. O humor não surge como um alívio forçado, mas como parte natural das interações humanas, contribuindo para a leveza da trama sem comprometer seus momentos de maior densidade. Seu desfecho, longe de se render ao previsível, opta por uma solução que respeita a jornada de Zeynep, reforçando a ideia de que recomeços não precisam seguir roteiros convencionais.

Mais do que uma história sobre uma mudança de cenário, “Em Uma Ilha Bem Distante” é um convite para refletir sobre as formas como nos perdemos e nos reencontramos ao longo da vida. Com delicadeza, humor e uma beleza visual encantadora, o filme reafirma a importância de estar aberto ao inesperado e de reconhecer, nos espaços que herdamos ou descobrimos, o potencial para novas formas de felicidade.

Filme: Em Uma Ilha Bem Distante
Diretor: Vanessa Jopp
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★