Romance elegante, charmoso e intimista na Netflix  — Laura Dern e Liam Hemsworth vão transformar sua sexta em entretenimento Hilary Bronwyn Gayle / Netflix

Romance elegante, charmoso e intimista na Netflix — Laura Dern e Liam Hemsworth vão transformar sua sexta em entretenimento

Selecionar um filme para um momento de descanso pode se revelar um risco, especialmente após uma semana desgastante. O cansaço pode transformar qualquer narrativa em um convite ao sono, diluindo até mesmo as melhores histórias em uma experiência esquecível. No entanto, há filmes que, apesar da aparente simplicidade, capturam o espectador pela naturalidade das interações e pela autenticidade do ambiente que constroem. “Amores Solitários” entra nessa categoria, mostrando um romance inesperado que se desenvolve sem pressa entre uma escritora consagrada e um homem jovem, alheio ao universo literário. Ambientado no Marrocos, o longa prioriza diálogos e sutilezas emocionais, o que pode frustrar os que buscam uma trama ágil, mas recompensa aqueles dispostos a apreciar o desenrolar da história com um olhar mais contemplativo.

A trama acompanha Katherine Loewe (Laura Dern), uma autora renomada que decide se refugiar em um retiro literário no Marrocos em busca de inspiração e sossego. O cenário, no entanto, está longe de proporcionar a tranquilidade esperada. Rodeada por intelectuais e escritores premiados, Katherine sente o peso das expectativas e luta contra a própria inquietação, que a impede de se concentrar. Nesse contexto, surge Owen Brophy (Liam Hemsworth), um homem na casa dos 30 anos cuja conexão com o mundo literário é praticamente inexistente. Ele acompanha sua noiva, uma das participantes do evento, mas sente-se deslocado, alheio às discussões e referências que permeiam as interações entre os escritores. Sua ignorância em relação a esse universo fica evidente durante um jogo de charadas, quando recebe a pista “PIP” e, em vez de associá-la a “Grandes Esperanças”, de Charles Dickens, lembra apenas do grupo musical Gladys Knight & The Pips.

A relação entre Katherine e Owen nasce da contradição: ela, uma mulher madura e intelectual, acostumada a transitar entre círculos eruditos; ele, jovem, espontâneo e despretensioso, alheio ao prestígio e às pressões do meio literário. O vínculo entre os dois se fortalece à medida que compartilham reflexões sobre solidão, expectativas e a busca por pertencimento. A fotografia do filme explora com sensibilidade o cenário marroquino, transformando-o em um elemento narrativo por si só. A paisagem exótica, os mercados efervescentes e as ruas estreitas contrastam com a bolha elitista do retiro literário, destacando-se como um reflexo das contradições que permeiam a relação dos protagonistas.

Contudo, alguns artifícios narrativos enfraquecem a proposta do filme. A perda da bagagem de Katherine, por exemplo, surge como um recurso forçado para justificar sua permanência prolongada no mesmo figurino — ainda que, em momentos pontuais, novas peças surjam de maneira pouco coerente. Além disso, a tentativa de conferir profundidade ao romance entre os protagonistas nem sempre convence. A química entre eles é perceptível, mas o roteiro insiste em transformar um relacionamento passageiro em algo grandioso, sem oferecer uma base emocional suficientemente sólida para sustentar essa promessa. Katherine, marcada por relações instáveis, e Owen, um homem sem laços profundos com o mundo dela, dificilmente teriam um desfecho que fugisse ao previsível. As diferenças entre seus estilos de vida e suas expectativas de futuro acabam por impor um peso maior do que qualquer atração momentânea.

Ainda assim, “Amores Solitários” possuem qualidades que o tornam uma experiência válida. Seu ritmo contemplativo, as atuações competentes e a ambientação bem trabalhada fazem dele uma escolha interessante para quem aprecia histórias que se desenrolam sem pressa. Não é um filme que pretende reinventar o gênero ou oferecer grandes surpresas, mas sim um refúgio narrativo para aqueles que desejam simplesmente desacelerar e se perder em uma trama leve e envolvente. Para quem busca um romance introspectivo e despretensioso, acompanhado de uma taça de vinho e uma disposição para pequenas reflexões, essa pode ser uma aposta certeira.

Filme: Amores Solitários
Diretor: Susannah Grant
Ano: 2024
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★