Drama belíssimo e inspirador com Tom Hanks e Robin Wright  — sob demanda no Prime Video Divulgação / Miramax

Drama belíssimo e inspirador com Tom Hanks e Robin Wright — sob demanda no Prime Video

“Aqui”, a mais recente empreitada cinematográfica do renomado Robert Zemeckis, convida o público a uma experiência verdadeiramente sem precedentes — uma que ousa confrontar e expandir os limites do cinema tradicional. Ambientado em um único pedaço de terra, o enredo se estende por uma linha do tempo extraordinária, que vai da era pré-histórica até o ano de 2020 e além. Contudo, o aspecto mais marcante desse filme é o compromisso inabalável com uma única perspectiva de câmera, uma escolha audaciosa que desafia os movimentos dinâmicos de câmera que normalmente são fundamentais para criar experiências cinematográficas envolventes. Em “Aqui”, o espectador é convidado a considerar não os personagens humanos, mas a própria terra, enquanto ela se transforma e evolui ao longo dos séculos. A câmera, sempre imóvel, se torna uma lente intrigante através da qual o passar do tempo é observado, e, ainda assim, pela engenhosidade de Zemeckis, o público permanece engajado, sem ser arrastado para a monotonia.

O verdadeiro maravilhamento de “Aqui” não está na grandiosidade do conceito, mas na maneira como ele é executado com uma finesse incrível. Apesar da abordagem visual aparentemente restritiva do filme, ela desafia a expectativa de que uma perspectiva estática inibiria a experiência. Zemeckis e o diretor de fotografia Don Burgess entram em uma dança delicada de sutis pistas visuais, manipulando iluminação, ambiente e cores para capturar a essência da progressão implacável do tempo. Através desses momentos cuidadosamente elaborados, o público é transportado por vastos períodos históricos, sentindo os anos se esticarem como fios invisíveis conectando momentos aparentemente distintos. A maestria técnica em exibição aqui transforma o que poderia ser um exercício tedioso de imobilidade em algo genuinamente cativante.

No centro de “Aqui” está uma narrativa humana profundamente íntima, centrada em Richard (Tom Hanks) e Margaret (Robin Wright). Suas vidas, desenrolando-se sobre esse quadro estático, servem como a espinha emocional do filme, explorando temas universais de amor, perda e a marcha imutável do tempo. A interpretação de Hanks como Richard é uma obra-prima de profundidade contida — sua capacidade de personificar o homem comum, porém extraordinário, que atravessa as marés da história com graça silenciosa, sustenta o peso emocional do filme. A atuação de Wright como Margaret o complementa com uma performance que é ao mesmo tempo fundamentada e pungente, tornando seus momentos compartilhados tanto ternos quanto trágicos. No entanto, apesar dessas fortes atuações e da engenhosidade técnica do filme, “Aqui” não está isento de falhas, especialmente no que diz respeito à sua narrativa abrangente.

Um dos principais desafios enfrentados por “Aqui” é sua ambiciosa abrangência. Ao tentar retratar séculos de história, a vastidão do filme sacrifica, inadvertidamente, a intimidade emocional que torna o relacionamento central tão envolvente. Enquanto a história da vida de Richard e Margaret parece profundamente pessoal, as narrativas periféricas — como as dos nativos americanos, soldados da Guerra Revolucionária e inventores do início do século 20 — faltam a ressonância emocional necessária para dar vida ao potencial dessa paisagem épica. Cada um desses arcos secundários é tentador em seu breve vislumbre da vida de indivíduos cujas histórias se cruzam com a terra, mas são deixados lamentavelmente subdesenvolvidos. Essa falta de profundidade emocional nos personagens secundários enfraquece a exploração mais ampla do filme, já que o público fica desejando uma análise mais coesa do significado histórico e cultural da terra.

Além disso, a apresentação do tempo no filme, embora tecnicamente extraordinária, muitas vezes cria um senso de desconexão emocional. O ritmo, que abrange vários séculos em poucos minutos, faz com que muitos personagens e suas histórias pareçam momentos fugazes, em vez de narrativas totalmente realizadas. Enquanto alguns períodos — particularmente entre as décadas de 1950 e 2000 — recebem mais atenção, até mesmo esses segmentos às vezes falham em envolver totalmente o espectador, com os personagens se sentindo mais como símbolos de seus respectivos tempos do que indivíduos totalmente desenvolvidos. Esse desequilíbrio no foco enfraquece o potencial de uma história verdadeiramente coesa, uma que poderia ter explorado poderosamente o papel evolutivo da terra na formação da história humana.

No entanto, o filme está longe de ser desprovido de momentos de brilho. A edição impecável e as transições entre os períodos de tempo são, sem dúvida, algumas das características mais marcantes de “Aqui”. Através dessas transições, o filme consegue transmitir uma sensação de continuidade, fazendo o passar do tempo parecer tanto tangível quanto fluido. No ato final do filme, há uma mudança notável quando a câmera, que permaneceu imóvel durante toda a história, finalmente se move. Essa mudança, embora breve, está carregada de significado emocional, ressaltando o potencial do movimento — tanto literal quanto metafórico — na narrativa cinematográfica. É aqui que “Aqui” oferece sua reflexão mais potente sobre o tempo: enquanto a câmera estática transmitiu belamente o passar do tempo, o breve momento de movimento força o público a reconsiderar como tais mudanças de perspectiva podem alterar nossa compreensão da história e das vidas que nela se desenrolam.

“Aqui” é um experimento ousado e ambicioso que se afirma como uma conquista tanto intelectual quanto técnica. Embora sua vasta abrangência e escolhas estruturais possam deixar alguns fios narrativos soltos, o filme ainda consegue oferecer uma experiência distinta, que desafia os espectadores a reconsiderarem a própria natureza da narrativa. Sua combinação de profundidade emocional, engenhosidade visual e ambição temática faz dele um filme digno de ser apreciado, mesmo que não entregue uma narrativa perfeitamente coesa. A ousadia de Zemeckis em desafiar as convenções cinematográficas, aliada a um elenco de alto nível, garante que “Aqui” não seja apenas um filme para assistir, mas algo para refletir. Pode não ser perfeito, mas convida os espectadores a testemunharem o poder do tempo e da perspectiva em moldar a essência das histórias que contamos.

Filme: Aqui
Diretor: Robert Zemeckis
Ano: 2025
Gênero: Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★