Thriller com Mark Wahlberg, baseado em um dos casos reais de atentados mais emblemáticos dos útimos 15 anos, na Netflix Karen Ballard / Lionsgate Films

Thriller com Mark Wahlberg, baseado em um dos casos reais de atentados mais emblemáticos dos útimos 15 anos, na Netflix

A recriação de eventos históricos no cinema carrega um duplo desafio: preservar a integridade dos fatos e, ao mesmo tempo, oferecer uma narrativa envolvente que prenda o espectador. “O Dia do Atentado”, dirigido por Peter Berg, busca esse equilíbrio ao retratar os desdobramentos do ataque terrorista ocorrido durante a Maratona de Boston em 2013. O filme se estrutura como um thriller policial, com um ritmo acelerado que conduz o público pelas horas que antecederam a tragédia até a exaustiva caçada aos responsáveis. No entanto, a obra oscila entre uma reconstrução detalhista e escolhas narrativas que, embora eficazes para a tensão dramática, comprometem a autenticidade da representação.

Um dos pontos mais controversos da produção é a decisão de condensar múltiplas figuras reais em um único personagem fictício. O sargento Tommy Saunders, interpretado por Mark Wahlberg, surge como o fio condutor da história, mas sua onipresença nas investigações desafia a credibilidade. Criado como uma síntese de diversos agentes envolvidos no caso, Saunders transita de maneira improvável por cada etapa decisiva da operação, reduzindo o impacto do esforço coletivo na resolução do atentado. Essa centralização dramatúrgica, ainda que torne a narrativa mais acessível e linear, simplifica a complexidade da investigação e reforça um protagonismo hollywoodiano que pode soar artificial diante de um evento de tamanha magnitude.

Apesar dessa escolha questionável, “O Dia do Atentado” mostra compromisso com a verossimilhança ao reconstruir o atentado e suas consequências imediatas. A tensão se intensifica à medida que as imagens de caos aparecem, capturando com brutalidade o desespero das vítimas e a mobilização das autoridades. O uso extensivo de imagens de segurança na narrativa adiciona um tom quase documental à produção, ilustrando o impacto das tecnologias de vigilância na resolução do caso. Essa abordagem, aliada à montagem precisa, contribui que o espectador entre na história, transformando o filme em uma experiência visceral e angustiante.

O elenco de apoio sustenta a carga emocional da trama ao interpretar figuras reais que foram cruciais na resposta ao ataque. Kevin Bacon, como o agente do FBI Richard DesLauriers, e J.K. Simmons, no papel do sargento Jeffrey Pugliese, conferem nuances de humanidade à investigação. Além deles, o estudante chinês que conseguiu escapar do sequestro e o policial do MIT assassinado pelos terroristas emergem como peças fundamentais na narrativa, ampliando a dimensão do impacto social do atentado. A força desses personagens secundários evidencia o quanto a história poderia ter sido ainda mais poderosa se o roteiro tivesse explorado com maior profundidade o papel coletivo na superação da tragédia.

Em geral, “O Dia do Atentado” se equilibra entre a necessidade de honrar os acontecimentos e o ímpeto de oferecer um suspense eficiente. A escolha de tornar um personagem fictício o centro da ação enfraquece a autenticidade do relato, mas não chega a comprometer completamente a intensidade da experiência. O filme funciona tanto como um testemunho cinematográfico da resiliência de Boston quanto como um estudo das dinâmicas de resposta a uma ameaça terrorista. Embora a busca pelo impacto emocional leve a concessões narrativas discutíveis, a produção consegue capturar a gravidade do evento sem se perder em excessos dramáticos. Para aqueles que procuram uma reconstrução enérgica e bem conduzida dos eventos de abril de 2013, a obra cumpre seu papel, ainda que não escape das limitações inerentes a adaptações desse tipo.

Filme: O Dia do Atentado
Diretor: Peter Berg
Ano: 2016
Gênero: Ação/Drama/História/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★