Filmes de assalto frequentemente transitam entre a meticulosidade do planejamento e a tensão da execução, sendo medidos tanto pela engenhosidade do crime quanto pela solidez dos personagens que o conduzem. “A Cartada Final” entra nesse panteão com um trio de estrelas incontestáveis: Robert De Niro, Edward Norton e Marlon Brando. Sob a direção de Frank Oz, o longa se ancora na tradição de clássicos do gênero como “Rififi” e “Topkapi”, explorando as dinâmicas entre veteranos e novatos do crime. No entanto, se o elenco dá peso à narrativa, o filme peca por não explorar plenamente o potencial de seus atores, resultando em um thriller competente, mas aquém da grandeza prometida.
A trama gira em torno de um roubo arquitetado por Nick Wells (Robert De Niro), ladrão experiente que planeja se aposentar, mas se vê obrigado a realizar mais um golpe por insistência de seu antigo parceiro, Max (Marlon Brando). O alvo: um cetro real francês do século 17, armazenado nos cofres da alfândega de Montreal. A peça que completa o tabuleiro é Jack Teller (Edward Norton), um jovem criminoso brilhante, mas impulsivo, cujo ímpeto colide com a frieza calculista de Nick. Essa relação entre mestre e aprendiz adiciona camadas ao filme, conferindo-lhe um atrativo que transcende a mecânica do assalto em si. Contudo, a construção desses personagens não se traduz completamente na ação, com momentos de diálogos extensos e algumas sequências que carecem de ritmo.
Se há algo incontestável em “A Cartada Final”, é a qualidade das atuações. Edward Norton, sempre magnético, confere complexidade ao seu personagem, oscilando entre arrogância juvenil e astúcia estratégica. De Niro, por sua vez, assume seu papel com a habitual competência, mantendo o espectador atento a cada nuance de sua interpretação. Brando, no entanto, se limita a um desempenho quase burocrático, aparecendo frequentemente em cena de forma pouco exigente, como se estivesse ali apenas para marcar presença. O trio, ainda que poderoso, não tem o mesmo peso dramático que poderia ter se o roteiro lhes proporcionasse desafios interpretativos mais profundos.
A ambientação em Montreal adiciona um charme visual ao longa, destacando-se pelo uso de planos amplos que capturam a cidade com um frescor raro no gênero. A cinematografia ressalta não apenas a geografia do local, mas também a elegância do crime em curso. Entretanto, para quem espera uma narrativa repleta de ação, “A Cartada Final” pode parecer moroso em sua construção. O filme se mantém em um ritmo cadenciado, ganhando intensidade apenas nos 30 minutos finais, quando finalmente entrega a tensão e a engenhosidade que um bom heist movie exige. O plano de roubo é meticulosamente detalhado, e Frank Oz conduz essa etapa com habilidade, criando momentos de pura aflição.
Apesar de suas qualidades técnicas e das performances envolventes, o filme apresenta fragilidades evidentes. A personagem de Angela Bassett, por exemplo, surge como um desperdício de talento, relegada a poucas cenas sem relevância para a trama. Sua relação com Nick é subdesenvolvida, tornando o desfecho, em que ambos partem juntos, inverossímil e emocionalmente vazio. A conclusão, embora eficiente dentro da lógica do roteiro, falta um impacto mais significativo, deixando a sensação de que, com um elenco desse calibre, a experiência poderia ter sido mais memorável.
“A Cartada Final” cumpre o papel de entreter dentro das convenções do gênero, mas não alcança o patamar dos clássicos aos quais se propõe a homenagear. O roteiro sólido e a direção segura de Frank Oz garantem um filme competente, mas que poderia ter sido verdadeiramente excepcional caso explorasse melhor os talentos reunidos. Ainda assim, assistir a três gerações de atores icônicos dividindo a tela é um privilégio por si só, e talvez esse seja o verdadeiro trunfo da obra.
★★★★★★★★★★