Remake de mistério de Hitchcock, com Lily James e Armie Hammer, está na Netflix Kerry Brown / Netflix

Remake de mistério de Hitchcock, com Lily James e Armie Hammer, está na Netflix

Ao adaptar “Rebecca” para o cinema mais uma vez, a versão recente tenta encontrar um equilíbrio entre a atmosfera de mistério do romance original e a grandiosidade visual que um grande estúdio pode oferecer. No entanto, o resultado final é uma narrativa que oscila entre momentos de genuína beleza estética e trechos de execução apressada, comprometendo a imersão e a força dramática da história. O primeiro ato apresenta um ritmo promissor, remetendo à sofisticação de “O Grande Gatsby” durante os eventos em Monte Carlo. A construção visual e os figurinos impecáveis contribuem para um encantamento inicial, criando a expectativa de que o filme encontrará uma identidade própria dentro do gênero gótico. No entanto, essa promessa começa a se desfazer assim que os protagonistas chegam a Manderley, onde a transição deveria marcar um mergulho mais profundo no suspense psicológico.

O grande desafio de qualquer adaptação de “Rebecca” é captar a dualidade essencial da história: a frágil inocência da protagonista frente à presença imponente e fantasmagórica de sua antecessora, além do mistério sombrio que permeia a mansão e seus habitantes. Aqui, o filme falha ao construir a angústia crescente necessária para que o espectador se envolva emocionalmente com os dilemas da protagonista. Lily James se esforça para transmitir a insegurança e o desamparo de sua personagem, mas a evolução de sua relação com Maxim é rasa, enfraquecendo o impacto de suas transformações ao longo da trama. A escolha de Armie Hammer para interpretar Maxim também se mostra um equívoco: sua aparência impecável e presença demasiadamente polida o afastam do tormento interno que deveria defini-lo. Sem essa densidade psicológica, a relação central do filme carece de profundidade, tornando-se apenas um romance convencional sem a carga de tensão que o original exige.

Kristin Scott Thomas, no papel de Mrs. Danvers, faz uma interpretação calculada e fria, mas a forma como a personagem é conduzida no roteiro enfraquece seu potencial como antagonista. Enquanto na versão de Hitchcock havia um clima de ameaça palpável, aqui a governanta se mantém apenas como uma figura arrogante e manipuladora, sem exalar a intensidade quase sobrenatural que deveria impregnar sua presença em cena. Manderley, por sua vez, que deveria ser um personagem por si só, não se torna a entidade opressiva que o enredo demanda. Sem um cenário verdadeiramente ameaçador, a atmosfera gótica perde força, e o filme se apoia excessivamente em sua fotografia elegante para criar uma ilusão de profundidade que nunca se concretiza.

O maior problema da adaptação está na segunda metade, quando a estrutura do filme se torna fragmentada e apressada. Revelações importantes são despejadas sem o devido preparo emocional, minando o impacto dos acontecimentos e tornando as transições entre cenas abruptas e artificiais. A montagem contribui para essa sensação de urgência desnecessária, prejudicando a imersão ao cortar diálogos importantes e mover a trama de maneira mecânica. Em um ponto crucial, o filme tenta adotar um tom investigativo súbito, transformando a protagonista em uma espécie de heroína noir por poucos minutos antes de acelerar em direção a um desfecho que, embora mais fiel ao livro do que a versão de Hitchcock, chega sem o peso emocional necessário para ser verdadeiramente impactante.

Se por um lado “Rebecca” tem um design de produção impecável, figurinos deslumbrantes e uma cinematografia atraente, por outro, ele falha em capturar o espírito perturbador da história original. Em vez de um thriller psicológico envolvente, temos um romance de época visualmente agradável, mas incapaz de provocar inquietação genuína. A ausência de uma atmosfera verdadeiramente claustrofóbica e de uma protagonista cuja transformação seja plenamente convincente resulta em um filme belo, porém superficial. É uma experiência agradável para aqueles que buscam um entretenimento visual refinado, mas insuficiente para quem espera a intensidade emocional e narrativa que a história exige. “Rebecca” se contenta em ser apenas uma bela releitura, sem conseguir se tornar uma obra memorável.

Filme: Rebbeca — A Mulher Inesquecível
Diretor: Ben Wheatley
Ano: 2020
Gênero: Drama/Mistério/Romance/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★