“Minari” não é apenas uma narrativa sobre a luta de uma família imigrante em busca do sonho americano, mas uma análise sobre o esforço contínuo de pertencimento e adaptação. Ambientado no Arkansas dos anos 1980, o filme nos conduz pela trajetória da família Yi, que deixa a Califórnia em busca de novas possibilidades no campo. Jacob (Steven Yeun), o patriarca da família, aposta em um sonho quase utópico de cultivar vegetais coreanos em solo desconhecido, enquanto sua esposa, Monica (Yeri Han), duvida dessa escolha, tornando-se a voz da razão, obstinada a questionar as promessas de um recomeço. Com a chegada da avó Soonja, interpretada com maestria por Yuh-Jung Youn, a trama adquire uma nova camada, onde a dinâmica familiar se transforma entre momentos de humor e tensões emocionais profundas.
A história não se resume à busca por sucesso financeiro ou reconhecimento, mas ao esforço incessante da família Yi para sobreviver emocionalmente em um ambiente hostil. Ao focar na tensão constante entre o sonho de Jacob e a realidade dura de Monica, “Minari” revela a natureza do imigrante: uma luta não apenas para se afirmar individualmente, mas também para garantir que seus laços familiares permaneçam intactos diante das adversidades. O título, que faz referência à planta minari, conhecida por crescer em solos áridos e difíceis, reflete simbolicamente a resiliência da família Yi, tentando se enraizar em uma terra onde tudo parece novo e estranho.
A fotografia de Lachlan Milne, repleta de vastas paisagens do campo rural, se alia à profundidade emocional dos personagens, criando uma representação visual da experiência interna de adaptação. Cada quadro, meticulosamente capturado, revela as camadas sutis de sentimentos que se escondem por trás de cada gesto. A trilha sonora, composta por Emile Mosseri, harmoniza elementos da música oriental e ocidental, tornando-se uma extensão quase invisível da própria narrativa. Em “Minari”, a música não apenas acompanha a ação, mas ajuda a desvendar os aspectos mais profundos da experiência humana, uma camada adicional de comunicação que enriquece a obra de maneira silenciosa, porém poderosa.
O filme, por sua estrutura não linear, desvia-se de qualquer expectativa previsível. “Minari” não busca um caminho simples ou óbvio; sua narrativa se constrói de maneira lenta e deliberada, criando um suspense que prende o espectador sem recorrer a truques narrativos banais. Há uma sensação constante de que algo está por vir, mas o filme nunca se entrega a convenções ou estereótipos, o que é uma das suas maiores qualidades. Ele se destaca por conseguir equilibrar drama e leveza de forma natural, sem forçar os momentos de tensão ou de alívio. A presença de Yuh-Jung Youn, como a avó Soonja, não só é um alicerce humorístico, mas também um elemento de introspecção emocional, pois ela traduz a sabedoria e a humanidade que transcendem gerações.
A relação entre a avó e o neto David ( Alan Kim) é um dos maiores pontos de atração do filme, oferecendo uma visão de uma cumplicidade genuína, repleta de nuances que encantam o público. A performance de Kim, com sua habilidade de capturar a inocência e as complexidades de um jovem imigrante, complementa a interpretação de Youn, criando um contraste que é, ao mesmo tempo, doloroso e doce. A química entre os dois é inegável, tornando suas cenas uma das forças propulsoras da trama.
“Minari” fala de temas universais: a luta por uma vida melhor, a resiliência humana diante das adversidades, a adaptação a novas culturas e a persistência das famílias diante dos desafios. Embora situado dentro do contexto imigrante, seu apelo é global, pois cada ser humano pode se identificar com a busca incessante por um lugar no mundo. O filme, ao tratar da experiência de imigrantes coreanos nos Estados Unidos, se estende além das fronteiras da nacionalidade, refletindo a universalidade da experiência humana. Ele se torna, então, não apenas uma crítica ao sonho americano, mas uma celebração da capacidade humana de florescer, independentemente do solo em que é plantado. Ao convidar o espectador a refletir sobre o que significa enraizar-se em um novo ambiente, “Minari” leva todos a questionar onde, afinal, podemos encontrar a verdadeira paz e pertencimento.
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